OI!!!
A Mudança (06)
Uma médica não deve deixar de dar seu telefone pessoal aos pacientes, a não ser que não necessite, em hipótese nenhuma, manter este contato fora do consultório ou hospital. Não se acompanha um paciente se não estamos comunicáveis a qualquer intercorrência.
Obviamente existem os abusos. Isso é uma constante. São pacientes que gostam de consultas domiciliares. Ligam por qualquer coisa e geralmente nas horas mais inconvenientes. É abuso, falta de educação, gente folgada, porém não podemos esquecer que muitas pessoas realmente precisam falar conosco e isso pode salvar uma vida. Um mal necessário.
Neste sentido, o médico não tem vida particular. Além disso, ele precisa sempre deixar alguém de sobreaviso, caso vá viajar e tenha pacientes sob seus cuidados. É a responsabilidade médica, que muitos e muitos colegas ignoram.
Por isso é importante que eu mantenha o mesmo número de telefone residencial, pois seria impossível comunicar sobre a mudança de número a todas as pessoas, algumas que eu acompanho ao longo de décadas.
Foi por causa disso que hoje eu tive uma crise histérica. Não por TPM, não por menopausa, mas por causa de uma gravação, um atendimento eletrônico:
- “Aqui é da OI. Oi!!! Boa noite!”.
- “Boa noite...”.
- “Tecle o seu número”.
- “XXXXXXXX”.
- “Fale o motivo de sua ligação”.
- “Quero manter meu número da linha no novo endereço”.
- “Desculpe, não entendi. Tente de novo”.
- “Quero manter meu número...”.
- “Vou ajudar. É fácil. Isso é um atendimento eletrônico. Fale resumidamente o que deseja”.
- “Quero contato pessoal!”.
- “Nã, nã, ni, nã, não! Ainda não acertou! Se não entender, diga "REPITA”".
- “PQP!”.
- “Não consegui entender. Fale como posso te ajudar ou diga "AJUDA”".
- “Ajuda...”.
- “Tecle o número de sua solicitação. Se deseja mudar o vencimento da conta, digite...”.
- “QUERO CONTATO COM ALGUÉM DE CARNE E OSSO! Disseram que só por este número eu consigo resolver meu problema e estão criando outro!”.
Eu nada conseguia. Resolvi teclar a opção OUTROS ASSUNTOS. Não havia possibilidade de uma máquina resolver outros assuntos não programados.
- “Boa noite!”.
- “Depende de você se a noite vai ser boa...”.
- “Em que posso lhe ajudar?...”.
- “Você é humana?!”.
- “Até o momento, sim, senhora”.
- “Eu pedi para mudar meu telefone para outro endereço e gostaria de manter o mesmo número”.
- “Lamento lhe informar que nosso sistema está fora do ar. Tente ligar dentro de 2 horas, por favor”.
- “Ok, Ok...”.
Desliguei, muito calmamente, educadamente. A seguir, liguei para minha secretária:
- “Dejê! Você quer me enlouquecer?! Que número ridículo é esse que você me deu para eu ligar?! Tá a fim de me deixar mais maluca, é?”.
Minha secretária engolia o riso. Tenho certeza absoluta que ela estava escondendo uma risadinha. Ela não me engana...
Bem, de qualquer forma, agora está tudo resolvido. Ela e a máquina lá já se entenderam e dentro de uns mil dias terei o mesmo telefone na nova casa.
Leila Marinho Lage
http://www.clubedadonameno.com
A Mudança (06)
Uma médica não deve deixar de dar seu telefone pessoal aos pacientes, a não ser que não necessite, em hipótese nenhuma, manter este contato fora do consultório ou hospital. Não se acompanha um paciente se não estamos comunicáveis a qualquer intercorrência.
Obviamente existem os abusos. Isso é uma constante. São pacientes que gostam de consultas domiciliares. Ligam por qualquer coisa e geralmente nas horas mais inconvenientes. É abuso, falta de educação, gente folgada, porém não podemos esquecer que muitas pessoas realmente precisam falar conosco e isso pode salvar uma vida. Um mal necessário.
Neste sentido, o médico não tem vida particular. Além disso, ele precisa sempre deixar alguém de sobreaviso, caso vá viajar e tenha pacientes sob seus cuidados. É a responsabilidade médica, que muitos e muitos colegas ignoram.
Por isso é importante que eu mantenha o mesmo número de telefone residencial, pois seria impossível comunicar sobre a mudança de número a todas as pessoas, algumas que eu acompanho ao longo de décadas.
Foi por causa disso que hoje eu tive uma crise histérica. Não por TPM, não por menopausa, mas por causa de uma gravação, um atendimento eletrônico:
- “Aqui é da OI. Oi!!! Boa noite!”.
- “Boa noite...”.
- “Tecle o seu número”.
- “XXXXXXXX”.
- “Fale o motivo de sua ligação”.
- “Quero manter meu número da linha no novo endereço”.
- “Desculpe, não entendi. Tente de novo”.
- “Quero manter meu número...”.
- “Vou ajudar. É fácil. Isso é um atendimento eletrônico. Fale resumidamente o que deseja”.
- “Quero contato pessoal!”.
- “Nã, nã, ni, nã, não! Ainda não acertou! Se não entender, diga "REPITA”".
- “PQP!”.
- “Não consegui entender. Fale como posso te ajudar ou diga "AJUDA”".
- “Ajuda...”.
- “Tecle o número de sua solicitação. Se deseja mudar o vencimento da conta, digite...”.
- “QUERO CONTATO COM ALGUÉM DE CARNE E OSSO! Disseram que só por este número eu consigo resolver meu problema e estão criando outro!”.
Eu nada conseguia. Resolvi teclar a opção OUTROS ASSUNTOS. Não havia possibilidade de uma máquina resolver outros assuntos não programados.
- “Boa noite!”.
- “Depende de você se a noite vai ser boa...”.
- “Em que posso lhe ajudar?...”.
- “Você é humana?!”.
- “Até o momento, sim, senhora”.
- “Eu pedi para mudar meu telefone para outro endereço e gostaria de manter o mesmo número”.
- “Lamento lhe informar que nosso sistema está fora do ar. Tente ligar dentro de 2 horas, por favor”.
- “Ok, Ok...”.
Desliguei, muito calmamente, educadamente. A seguir, liguei para minha secretária:
- “Dejê! Você quer me enlouquecer?! Que número ridículo é esse que você me deu para eu ligar?! Tá a fim de me deixar mais maluca, é?”.
Minha secretária engolia o riso. Tenho certeza absoluta que ela estava escondendo uma risadinha. Ela não me engana...
Bem, de qualquer forma, agora está tudo resolvido. Ela e a máquina lá já se entenderam e dentro de uns mil dias terei o mesmo telefone na nova casa.
Leila Marinho Lage
http://www.clubedadonameno.com