Palavras Cruzadas
Palavras ao vento, ao acaso, para onde vai tudo isso depois que se esquece? Se há como envenenar alguém com uma língua afiada, víbora, é de se entender que as palavras também possam mais, que vão além. Há a palavra-poesia, retirada bruta, ingênua e inconsciente do desejo, no entanto, a palavra vai além, mais fundo, mais forte. Onde a língua não puder tocar, ela estará lá, talvez causando mais frenesi do que se apenas um corpo tocasse outro. Na palavra, cabem sons, cabem melodias, cabem cheiros, aromas, fragrâncias, os sentidos excitam-se com meras palavras. As palavras não traduzem a volúpia, a incitam para que os olhos que as leiam, sintam o calor da respiração a lhe murmurar no ouvido as mensagens secretas. As palavras são efêmeras, se perdem no vento, precisam do sangue rubro doce, qual chocolate na epiderme, para que permaneçam fiéis entre a lembrança e os olhos. Porém, mais importante do que imprimir, seja onde for, tais palavras, é senti-las, degustá-las. Acordar e perceber que o gosto das palavras proferidas não foram sonhos, restam ainda na boca. O cheiro nos dedos, ilusões etéreas do mistério que é o verbo, no início, era o verbo, e ele era imperativo:
“_Goza!”