OBAMA

(de Brasília – DF) Nesta madrugada eu assisti com certo orgulho o ato em que John MacCain ligou para Barack Obama admitindo a derrota; no sistema eleitoral estadunidense, que não existe um tribunal eleitoral, este tipo de ato significa a diplomação não oficial do candidato vencedor e como diria o Presidente Lula: “nunca antes na história daquele país um negro de origem mulçumana chegou tão perto da Casa Branca, e o melhor, venceu as eleições com bastante conforto.

Estas eleições americanas já seriam por si somente um marco histórico; se por um lado, jamais um negro chegou à presidência, de outro, jamais uma mulher chegou à vice-presidência, caso específico da derrotada Sarah Palin; tudo marcava o pleito como sendo histórico, inigualável e intransponível, mas as nuvens negras dos radicais ameaçavam a diplomacia e a democracia.

Hoje, 05 de novembro de 2008, eu estive na Embaixada Americana em Brasília para renovar meu visto; dentro da fortaleza estadunidense no Cerrado de Brasília não se comentava outra coisa; até a consulesa que me atendeu e me concedeu mais cinco anos de visto, comentou sobre Obama em tom disfarçado, com toda certeza, alegre e feliz pelo fato.

Líderes mundiais da Arábia Saudita e do Oriente Médio saudaram a eleição de Obama; Hugo Chávez e Evo Morales também; Lula, que também tive a chance de encontrar sua comitiva na saída da embaixada, plantou uma árvore em homenagem ao negro senador e advogado; a Europa entrou em festa, menos a Itália que é Bush por causa de Berlusconi; o Quênia na África, país da família Obama, decretou feriado nacional; Israel está temerosa, muito embora Chimon Perez o tenha elogiado; enfim, o mundo enxergou uma oportunidade única de mudar sua história, mudar a história através da política da diplomacia sensata e de ações menos prejudiciais aos menos favorecidos; o mundo inteiro enxergou hoje que com a eleição de Obama, o menos pior ocupará a Casa Branca e por ter sido ele um dos mais oprimidos dentre seu próprio povo, que trabalhará diuturnamente para facilitar a cicatrização de muitas feridas.

Eu já havia escrito, aqui e no Recanto das Letras, que caso Obama se elegesse ninguém esperasse o milagre da liberdade plena, afinal de contas, mesmo sendo um negro, antes de tudo Obama é estadunidense; outro fator é que os Democratas, partido do presidente, terão maioria no Senado e na Câmara dos Deputados, mas não terão maioria absoluta, que é necessário para um comando mais forte; Obama precisará costurar acordos e isso inclui os Republicanos conservadores; queira Deus que a mudança disseminada por Barack Obama, consiga sim chegar e chegar cedo, porque nem eles, os estadunidenses, nem o resto do mundo, já estavam mais suportando tantas asneiras políticas.

Uma das maiores esperanças do mundo inteiro é que Obama consiga, em primeiro lugar, controlar a crise econômica que já beira 1 trilhão de dólares em prejuízos e que foi, principalmente, ocasionada por eles, os estadunidenses. A solução para o controle desta crise atual passa, atende de tudo, pelo comendo forte e inteligente deste novo modelo de Presidente.

Depois, os povos do mundo inteiro, esperam que os EUA interfiram menos nas questões de soberania das outras nações; o mundo espera com certa brevidade, uma solução menos sangrenta para os conflitos com os mulçumanos; espera o fim da guerra do Iraque e a desocupação de muitos territórios, inclusive o Afeganistão; há quem diga que se estas guerras recentes não fossem travadas, com certeza não haveria o problema da crise mundial financeira, muito menos, seriam ceifadas milhares de vidas inocentes.

Jamais fui fã deste ao daquele político dos Estados Unidos, mas se nunca nutri amores, jamais também nutri qualquer tipo de ódio, afinal de contas, esta briga e este tipo de sentimento não me pertencem; mas desta vez, confesso que fui levado pela “onda da mudança”; eu quis ver uma América mudada de fato e nesta aposta, “paguei” pra ver no que isso vai dar de fato.

O Brasil precisa muito da política interna dos Estados Unidos da América; seja para vender nossos produtos, seja para importar o deles; seja para exigirmos melhores tratamentos aos brasileiros, legais ou não, seja para recebê-los em maior número aqui, abaixo da Linha do Equador; precisamos muito dos dólares deles, da mesma forma que temos interesse que eles vejam nosso Real de forma mais aprazível; queremos sim nos aproximar ainda mais dos EUA, sobretudo, para que eles se conscientizem que estão nos poluindo e devem nos ajudar nesta questão e Barack Obama, eu acho que será o menos volúvel para estas questões; pelo menos foi isso que o povo referendou nas urnas.

Fui um dos maiores críticos pela aspereza com que o povo brasileiro recebeu Bush, mas confesso que também sei reconhecer que a política deles, mesmo antes de Clinton, só visava o benefício absoluto deles próprios; fazia muitos anos que um Presidente americano sinalizava criar uma política menos paternalista e o 44º Presidente é este misto de esperança com simplicidade para todos os povos do mundo.

Nas reportagens de hoje, eu não consegui ver a reação de povos como o Irã, Palestina, Iraque, Afeganistão, Coréia do Norte, China, Cuba, Síria, Líbano e Líbia, todos inimigos dos EUA; eu não sei como esta gente vê esta novíssima eleição, mas pelo menos, nas ultimas eleições, quando os Republicanos venciam, havia sérias manifestações contrarias; pelo menos isso ninguém até agora viu!

Alguns otimistas que eu consegui conversar dentro da Embaixada me disseram que Obama iria abrir as fronteiras e mandar derrubar o muro que os divide do México; outros diziam que haveria o maior processo nacional de concessão do Green Card (documento que legaliza os estrangeiros); reaproximação com Cuba; fim de Guantánamo e outros já anunciavam o fim da ocupação do Iraque ainda este ano; eu acho que isso, se ocorrerá, não será agora; Obama precisa de muito tempo para realinhar os caminhos que levam a América tão sonhada como sendo o Eldorado; os Estados Unidos estão manchados de nódoa viscosa de lodo e o pântano que ameaça invadi-los já beira as portas das mais tradicionais famílias.

Obama precisará reorganizar o comando da Casa Branca e contar com o valioso apoio do Capitólio; somente depois de sua posse em janeiro de 2009 é que conseguiremos enxergar algum tipo de luz lá no final do ultimo túnel, dentre os milhares; com certeza ele voltará sua atenção para seu povo e se lhe sobrar tempo e inteligência, isso poderá ser destinado ao resto do mundo, mas uma coisa é certa: ele não fará nada que lembre a administração de Bush.

Viva a DEMOCRACIA!

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

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