A MORTE DE ALEXANDRE O´NEILL
O FALECIMENTO DE ALEXANDRE O´NEILL
Nelson Marzullo Tangerini
Descobri Alexandre O´Neill, poeta português, apesar do sobrenome irlandês, na Livraria Camões, de meu amigo Estrela, também português, no Largo da Carioca, no centro do Rio.
Em 1981, soube que “o gajo” viria à Cidade Maravilhosa para uma noite de autógrafos. Conheci-o pessoalmente. Em meio a centenas de leitores seus, no Centro Empresarial Rio, em Botafogo, consegui falar com O´Neill, que autografou-me o livro Saca de Orelhas.
Mais sorte teve Estrela, que passou longas horas a conversar com o poeta.
Simples, fechadão, nenhuma afetação, Alexandre O´Neill, lisboeta de quatro costados, foi um poeta surrealista que, às vezes, usava a sátira para ironizar os próprios portugueses.
Quando soube que Alexandre havia falecido, escrevi a Drummond, lamentando a morte do ilustre lusitano.
Escreveu-me o poeta de Itabira:
“Rio, 16 de setembro, 1986.
Nelson Tangerini:
Respondi à sua pergunta. Alexandre O´Neill faleceu em 21 de agosto passado, após alguns meses de internação em hospital: de coração. Foi o que li no “Jornal de Letras”, de Lisboa, que em dois números sucessivos dedicou espaço à memória do poeta. Infelizmente, não guardei as páginas.
Cordialmente,
Carlos Drummond de Andrade.
Como já lhes disse em crônica anterior, quando estive em Lisboa, em 2002, acompanhando o escritor e historiador do movimento operário Edgar Rodrigues, levei o livro Feira Cabisbaixa, de Alexandre O´Neill, que ganhei de Drummond e que tem dois autógrafos - de Alexandre para Drummond e de Drummond para mim - em minha bagagem.
Li seu poema O Tejo corre no Tejo quando fiz a travessia do Rio Tejo, de barca, de Lisboa para Cacilhas, Almada, e passei alguns minutos a meditar sobre o rio mitólogico, que tantas vezes inspirou poetas portugueses.
Gesto incompreensível, para alguns. Não para mim. Enfim, coisas de poeta. Ou de pessoas com alguma sensibilidade. Diz o ditado popular: “De médico, de poeta e de louco, todos temos um pouco.”
O´Neill, que nasceu em Lisboa, em 1924, e faleceu, portanto, em 1986, “participou destacadamente na introdução do Surrealismo, tendo no entanto cindido mais tarde em relação ao que consideraria os “aventureiros” do movimento inicial. De qualquer modo, embora infletindo a liberdade de verso, de metáfora, de enquadramento e de composição poemáticos de seus primeiros ensaios poéticos, segundo certas coordenadas mais clássicas. Alexandre O´Neill é um nome inseparável da renovação temática e da atitude poética surrealistas. Nos seus poemas vemos, com efeito, combinarem-se, não raro de surpresa, elementos de sátira densamente realista com uma sensibilidade lírica ousadamente assumida, como que de viva voz, à flor da pele. A sua linguagem que pode talvez considerar-se mais surrealista do que surrealista, serve-lhe sempre para desconcertadamente denunciar, de maneira mais pessoal, o grotesco quotidiano e os horizontes que como país nos limitam.” (*)
São suas obras principais: “Tempo de Fantasmas, 1951; No Reino da Dinamarca, 1958; Abandono Vigiado, 1960; Poemas com Endereço, 1962; Feira Cabisbaixa, 1965; Uma coisa em Forma de Assim, 1980; Poesias Completas: 1951/1981, 1982”. (*)
(*) Pequeno Roteiro da HISTÓRIA da LITERATURA PORTUGUESA, Ministério da Cultura e Coordenação Científica / Instituto Português do Livro, Lisboa, Portugal, 1982.
Nelson Marzullo Tangerini, 53 anos, é escritor, jornalista, poeta, compositor, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br ], onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini.
nmtangerini@gmail.com, nmtangerini@yahoo.com.br