OS DOIS LADOS DA MOEDA

Tem gente que reclama de tudo. Calor é algo insuportável. A pele fica oleosa, o cabelo suja logo, a gente fica desarrumada. Se fizer frio é um caos. O nariz fica obstruído, a gente tem que andar agasalhado parecendo um repolho, roupa em cima de roupa. É horrível!

Tem gente que reclama do barulho da rua, dos carros, da vizinhança, das motos, do som que passa fazendo propaganda. Xinga pra cá, xinga pra lá. Também não quer morar distante longe do tumulto do centro da cidade. Deus me livre de ficar isolada, o silêncio me dá nostalgia, tenho medo de ladrões.

Ai! Meu Deus! Difícil contentar certas pessoas.

Ainda bem que nem todo mundo é assim. Eu tenho uma amiga que tudo pra ela está bom, está certo, está ótimo. Quando eu pergunto qual o segredo de se viver tão bem, ela responde:

- Se lhe derem um limão faça uma limonada.

Um dia desses nós estávamos numa festinha. A anfitriã sorteou uns dez brindes. Todo mundo querendo ser premiado, inclusive ela. Infelizmente não ganhamos nada. “Feliz no jogo, infeliz no amor”. Encontrou rapidamente uma desculpa para não lamentar a falta de sorte.

Engraçado mesmo foi quando ela pegou uma gripe. Ficou de cama, sem apetite por uns quatro a cinco dias. Enquanto as colegas ligavam lamentando:

- Que pena! Você perdeu uma bela festa, um excelente aniversário, ta-ra-ra-ta-ra-ra.

- Pois é, perdi muitas coisas boas, mas perdi também uns três quilinhos que tanto queria e não conseguia nem malhando três horas por dia . A gripe foi ruim me deixou com falta de apetite, mas pelo menos emagreci.

Pode uma coisa dessa? Achei mais interessante foi quando nos encontramos com João. O olho inchado, por acolá como se costuma dizer.

-Vixe! Que foi isso!

-Ah! Foi uma picada de marimbondo. Você não imagina a dor. E por cima ainda estou deformado.

- Não fica lamentando assim, meu irmão. Você sabe que a toxina do marimbondo faz bem para o coração?

- É mesmo? Quem lhe disse isso?

- Não sei onde li, ou se me contaram mas eu ouvi falar que é. Depois por que esses óculos esporte no bolso? Põe na cara que você vai ficar charmoso homem, lindão e ninguém nem vai saber que seu rosto está assim.

Adentrando no apartamento de minha amiga fui direto para o note book. Abri o google e procurei: marimbondo. Nada encontrei sobre o relacionamento da toxina com a doença do coração. Li apenas algumas recomendações de como proceder após a picada:

• Eleve a parte do corpo que foi picada e coloque gelo ou faça uma compressa fria para diminuir o edema (inchaço).

• Creme de corticosteróide tópico e anti-histamínico oral podem ajudar a controlar a inflamação e a coceira.

• Se você estiver com muita coceira (mesmo sem reação alérgica) procure um médico para que ele receite a medicação correta para reduzir o inchaço.

Indaguei mais uma vez de minha amiga otimista.

- Onde você leu sobre a toxina do marimbondo? Não vi nada na Internet que tivesse relação com o coração.

- Não lembro, mas deixe-me pesquisar novamente na Internet.

- Foi lá, foi cá, abriu várias páginas, “altavista”, voltou para o “google”, e disse:

- Olha o que encontrei:

“Os marimbondos também têm o seu lado bom. São predadores de muitos insetos nocivos como cupins, aranhas, formigas, lagartas, gafanhotos e mosquitos.Então, é bastante útil preservá-los, mas quando a população desses bichos aumenta muita é necessário fazer o controle para que não se torne perigosa a convivência” . Pronto, encontrei uma vantagem do marimbondo. Você só encontrou o lado negativo do bichinho.

- Mas o seu amigo acreditou que a toxina do marimbondo serve para o coração e pode até sair contando por aí.

- E daí? Você acha que alguém vai se deixar picar propositalmente por marimbondo? O importante é que ele se conformou com seu estado e saiu todo contente e feliz com aqueles óculos escuros na cara. Que ele ficou com pinta de galã ficou mesmo.

Aprenda minha amiga, toda moeda tem duas faces. Um lado bom e outro ruim. Se sua moeda cair do lado bom aproveite e se cair do lado mau, não fica lamentando, troque de lado.

A vida é bela!!!...

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 05/11/2008
Reeditado em 11/05/2020
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