Carta a Emília II - Confissão de Amor
Emília, meu amor
Envio-lhe Senhora, nestas breves linhas, prova do meu desesperado estado.
Desde que parti para fugir de sua pessoa, fugir dessa Lisboa tão sua, tenho vivido no sobressalto de a ver em todas as coisas.
Quando a nau que me navega, para longe, iça as velas, rasga o mar, oiço os meus camaradas dizerem:
-É o som de Vera Cruz, é o som do Novo Mundo!
-Não, camaradas, é o meu coração que se afasta. É o meu coração que fica.
Quando o vento levanta o mar e o horizonte se acinzenta, oiço os meus companheiros dizerem:
-É a sorte dos marinheiros! A sorte que nos conduz!
-Não, camaradas, é a paixão de um breve beijo. É o meu corpo que se agiganta.
Quando a noite cai e sob as estrelas arreamos âncora, oiço a voz dos aventureiros a dizer:
-É o tempo das Sereias. É a nossa condição!
-Não, camaradas, é o amor que envio. É a certeza que a minha amada me espera.
Sigo viagem na direcção contrária de Sua Senhoria.
Rogo a Deus que estas palavras a encontrem e, nesse encontro, peço-lhe que aceite o meu sincero e profundo amor.
Do Seu Manuel Correia