P A Q U I T O, QUE FALTA VOCÊ ME FAZ !
Na minha juventude em Salvador – tinha lá meus 18 a 19 anos - consegui convencer Dona Alice, minha mãe, a ficar com Paquito na nossa casa. Era um cão da raça basset hound preto com as indefectíveis manchas brancas - o conhecido salsicha. Foi amor à primeira mordida !
Com pouco tempo de casa e todos os pés dos móveis roídos – ele parecia pertencer à família dos castores – eu resolvi levá-lo para tomar o seu primeiro banho de mar. Fomos até a praia de Piatã, que durante os dias de trabalho costumava ser bem vazia.
O sol era um deleite e o mar estava um sonho. Soltei-o da coleira na areia morna e clara. Neste instante entendi em quem se basearam para fazer àquele personagem de filme chamado The Flash! Ele parecia um corisco riscando o céu – neste caso riscando a praia.
Entrei na farra. Eu corria atrás dele e, como dois irracionais, invertíamos as posições quando um achava que já ia pegar o outro.
A incompatibilidade de gênios deu-se, quando eu resolvi dar um refrescante mergulho no reino de Iemanjá. Ele até tentou acompanhar-me, porém quando tocou a suas patas na água e observou o ir-e-vir daquele monstro liquido, recuou e adotou uma posição de observador atento, tal e qual um daqueles observadores da ONU na Cisjordânia. Acho que imaginava que a desatenção poderia lhe custar a vida. Banhei-me sem companhia, enquanto ele corria atrás qualquer coisa que se mexesse na areia.
Chegada a hora de partirmos, notei que o meu companheiro de alegria estava um farrapo humano – quer dizer um farrapo canino! Deitado na areia, parecia um soldado russo da 2ª Guerra Mundial com seu uniforme branco camuflado na neve. No caso de Paquito, parecia um monte de areia camuflado na areia mesmo.
Tomei a drástica decisão! vou dar um banho de mar nele. No meu imponente e suntuoso Fusca 1970, azul celeste ele não entraria daquele jeito.
Joguei-o dentro das ondas que rebentavam, a uns cinco metros da areia. Notava-se, claramente nos seus olhos, o mesmo terror que as vítimas do Titanic devem ter sentido. Nadava a patadas largas parecendo querer bater algum recorde mundial. Quando chegou na areia, aí deu-se o fato que iria marcar positivamente a minha vida de rapaz e minha relação de companheirismo, diria até de sociedade com Paquito.
Ao sentir-se em terra firme ele desembestou a correr alucinadamente à procura de enxugar-se. A uns 30 metros de onde estávamos, duas moças bem aparentadas, sadias, morenas – enfim gostosas, mesmo – estavam deitadas solenemente nas suas respectivas toalhas aquecendo-se ao sol. Paquito não titubeou! invadiu as felpudas toalhas das garotas e esfregou-se de dar gosto, espalhando areia em todos os pertences e nas próprias vítimas.
Corri os 30 metros em aproximadamente 5 segundos – naquela época ainda conseguia – e segurei-o ralhando com o infeliz, e meio sem jeito pedi desculpas. Preparava-me para bater em retirada desconsolado quando, para minha surpresa, uma das garotas falou com àquele sotaque baiano que só não gosta, quem não aprecia o suave balançar de uma rede:
- Não brigue com ele não menino. Ele é tão bonitinho. Deixa ele !
Obedeci prontamente, e ficamos a conversar – os três. Paquito já se enxugava mais adequadamente e com menos pressa na toalha da outra moçinha.
Neste dia marquei com uma das meninas para sair à noite e, confesso, não foi ruim.
À partir deste dia, era rara a vez em que o meu irmão canino não ia à praia comigo. E eu nunca levava minhas próprias toalhas.
Meu amigo Paquito. Que falta você me faz hoje em dia !