ALQUIMIA

Entraste na minha vida de repente e sem pedir licença.

A porta estava sem trinco e tu não bateste!

Invadiste sem pudor e tomaste conta de tudo como se fora dono desde sempre!

A princípio gostei da tua companhia. Tu parecias sensível e era bom trocar longas conversas contigo pelas madrugadas solitárias de antes...

Teu eterno ar de menino órfão me comoveu! Pensei que poderia preencher também os teus vazios e fui me dando a ti cada dia mais...

Acreditei nas tuas histórias e confiei nos sonhos que traçavas para nós...

O tempo passou e tu nunca realizavas o que me propunhas!

Minha vida já não era mais a mesma, porque tua presença ocupava todos os espaços e era difícil para mim vivê-la sem pensar em dividi-la contigo.

Mas aos poucos fui entendendo a angústia de viver ao teu lado...

Percebi decepcionada que teus castelos eram feitos de areia, que tuas promessas eram vãs e desprovidas de alicerces sólidos, que mentias para mim sem qualquer culpa e que não querias ver estes erros porque tinhas medo da dor da consciência e te sentias bem em permanecer “dormindo”...

Entendi que não poderia imolar-me por ti e um dia, reuni todas as minhas forças e te expulsei da minha vida!

Para que não voltasses mais e me surpreendesses com o canto da tua voz ou o toque da tua mão, coloquei trancas em todas as entradas...

Chorei amargamente a tua falta, mas me mantive firme naquela decisão!

Tu tentaste usar a sedução para me enredar, mas cerrei também o coração e não me deixei convencer por nada que pudesses tentar!

Tu me odiaste por isso e me viraste as costas cuspindo no chão que eu ainda haveria de pisar, mas não titubeei diante de nada!

Entreguei ao tempo as tristezas que me deixaste e guardei de ti as lembranças que puderam me ensinar sobre as minhas necessidades.

O tempo me ajudou e te levou para bem longe de mim!

Hoje minhas janelas estão abertas e eu posso olhar o céu e sentir o sol novamente sem medo que voltes a me incomodar.

E quando a memória te traz de volta em pensamento eu sinto gratidão por ti e por tudo que me ensinaste com a tua equívoca maneira de amar!

Sei da importância que tiveste como instrumento do meu aprendizado e posso usufruir do “tesouro” que conquistei com a alquimia da dor que me deixaste!

Cristale
Enviado por Cristale em 03/11/2008
Reeditado em 19/03/2013
Código do texto: T1263915
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