DEUS OU CIÊNCIA?
Séc. XVI
Uma nova corrente de homens convergiu para o início de uma Ciência sem limitação de objecto de estudo, chamam-se eles, Iluminados.
Apesar do Vaticano proibir tal projecto, alegando ser pela vontade do Senhor, estes homens em prol da satisfação intelectual do futuro homem, arriscaram as suas vidas e montaram laboratórios clandestinos.
A igreja descobriu e executou de muitos deles em pelena praça pública.
Galileu Galilei foi uns dos homens que sofreu nas mãos da Igreja, apesar de o pouparem a um terrível execução, a Igreja obrigou-o a passar os restos dos seus dias no Vaticano, cujas únicas pesquisas teriam de ser aprovadas pelo Papa e elaboradas naquele curto espaço.
Séc. XXI
Em pleno Séc. XXI, a Igreja continua a derramar sangue, em prol do Senhor.
O que vos vou contar, é o exemplo mais típico do mundo e por ser tão típico, é o que o torna ainda mais revoltante.
Como é que o Mundo pode ser tão cego?
"Chuva, noite, pouca luminosidade e dois carros são ingredientes, mais que necessários, para a ocorrência de sinistralidade. Por outras, palavras, para mudar a vida de uma pessoa; causar um acidente, fatal.
Quando acordei atordoado, sinto um ardor na testa. Era sangue, numa fracção de segundos, percebi que estava num hospital. O meu pai apareceu, junto da minha irmã, pouco tempo depois. Disse-me que já estava bom e só tinhamos de esperar por nóticias da mãe.
O acidente não fora culpa de niguém, o piso estava molhado e os dois carros derraparam e acabaram na colisão. Mas depois, enquanto esparava, perguntava-me porque raio aconteceu aquilo? Eu sou... era Testemunha de Jeová portanto perguntei-me, primeiro, porque é que Deus/Jeová deixou que aquilo acontecesse. O pai sempre me dissera que tudo na nossa vida, acontece porque Jeová o assim quer, a vida, o amor, a tristeza, a felicidade. Eu nunca consegui interiozar aquilo, devido à confusão que me fazia quando aplicava aos casos que via na televisão, jornais, ou simplesmente situações que ouvia e via no meu quotidiano. Suspirei.
Um médico dirigiu-se a nós. Já estava à espera do mesmo palavriado, «a sua mulher teve... blá, blá, blá.... necessita disto... blá, blá, blá...repouso absoluto». Qualquer coisa do género, desde que dissesse que está tudo bem e já a podemos levar para casa. Por mim tudo bem, não tencionava fiquar sentado mais 2 horas à espera.
- Conseguimos establizar a sua mulher. - disse enquanto revia a ficha médica da paciente - Sofreu um ligeiro hematoma no ombro e outro um pouco grave na coxa. - pintou-se um sorriso angelical na cara do médico - Mas vai ficar tudo. Ora... - voltou a rever a ficha da paciente - ...só preciso que assine aqui. - continuou - A sua mulher vai precisar de transfusão de sangue...
O meu pai devolveu a caneta que o médico lhe ofereça para assinar, interrompendo o raciocínio do médico.
- Somos Testemunhas de Jeová. - disse calmamente.
- Mas, ela pode morrer! - disse o médico franzindo o sobrolho, que se desfez rapidamente, sem qualquer outro acto de revolta, apenas um pouco sentido com a decisão do meu pai - OK. - disse saindo rapidamente da sala de espera.
O meu pai sentou-se no banco, levando a minha irmã, bebé, ao colo.
- Pai!? Jeová, não quer que a mãe viva? - disse eu, tão alto que toda a gente da sala de espera ficou a olhar para o núcleo da minha família.
- Jeová, sabe o que faz. Ele só quer o nosso bem. - disse sussurando, para que o resto das pessoas não podessem ouvir a barbaridade que acabara de proferir.
O momento era demasiado doloroso para me revoltar contra ele, a decisão só podia depender dele, infelizmente, a culpa seria dele. Mas também não me enconstei a ele, como a minha irmã o fez, sentei-me junto à parede, dois ou três acentos afastados do dele.
Que raio de Deus é este? Que se intitula de nosso pai, quando deixa a mulher que mais amamos e amaremos no mundo morrer, ou seja a nossa mãe? Vai para o céu!? Que céu? Existem provas da existência de céu algum, um lugar mágico ou um paraíso, onde todos vivem felizes!? E provas de um pai sobrenatural, nunca também soube de provas algumas da sua existência, toda a minha felicidade depende daqueles que me rodeiam. Quem é este Deus que diz, que me garante felicidade, paz eterna, amor, quando pede aos homens da Terra para deixarem morrer a minha MÃE. Em prol do quê? Da virgindade do seu sangue. Ridículo.
Por outro lado, a eterna inimiga de Deus, ou seja, a Ciência, deu-me a possibilidade de a manter viva, de a manter junto a mim. Com que lata é que me pedem para acreditar numa coisa que não se pode provar e que me faz sofrer!?
O médico de ao bocado, aparecera de novo.
- Pensei que ao menos... - salientou a expressão, forçando um olhar ao meu pai - ...queiram-se despedir dela?
O meu pai assentiu, levou ao colo a minha irmã que estava sentada no banco do hospital e pegou na minha mão, que se tentava esquivar do calor daquele ser horrível que era o meu pai.
Quando chegamos ao quarto do hospital, o meu pai aproximou-se e beijou a testa da minha mãe, dando seguimento a mim e à minha irmã.
Apesar de eu ter apenas 9 anos, sabia perfeitamente o que é que o monitor, ao lado, representava, com aquelas duas linhas verdes aos saltinhos, com os seus altos e baixo. Era incrível como aquelas duas linhas que se preparavam para ficar tão rectas, tão matematicamente rectas, marcavam o fim da vida, o princípio da morte. Ouviu-se um «piiiii» longo e doloroso. E, puf.
Morreu.”