Nada se cria...

Fiz uns contos durante a graduação e uma professora os considerou excelentes. Animei-me e botei-me a escrever um romance. Quanta presunção! Botei a cabeça no passado - quando eu decifrava os segredos da leitura e escrita nos folhetos de cordel – e fui construindo um estilo que imagina impar, inédito, exclusivamente meu.

Já nas primeiras avaliações jogaram-me inconteste banho de água fria: “parece uma página de um livro de Graciliano Ramos”. Pouquíssimos acreditaram na minha autoria e outros insinuavam plágio. O quê? Senti-me envergonhado e, ao mesmo tempo, desafiado a provar que não era copia. Escrevi, então, um conto os colocado como personagens e utilizando argumentos comuns ao grupo. Criei fama de inteligente. Caguei e andei. O que eu queria era criar estilo único e exclusivamente meu.

Mergulhei na semântica, sintaxe e solecismo. Emendei a sintaxe cearense, costurei o solecismo sertanejo, inventei semânticos e revirei o Aurélio e o Houaiss. Apresentei um texto novo e refinado e, confesso: acreditei ter encontrado meu caminho.

“Parece Euclides da Cunha”. Outro banho de água fria.

Entreguei-me, então, ao tabuismo, confiante no eu lírico enquanto escudo. Ledo engano: todos juram que falo apenas de mim. Se escrevesse sobre um assassinato, certamente, a policia bater-me-ia à porta e levar-me-ia preso. Houve alguém que disse ter eu transbordado do “Velho Safado”.

Depois de se compreender a intertextualidade, só resta uma saída: estudar matemática!