TONINHO CAFÉ
POR ONDE ANDA
O MINEIRO TONINHO CAFÉ?
Nelson Marzullo Tangerini
Em 1978, o cantor e compositor mineiro [de Belo Horizonte] Toninho Café lançava, pela Gravadora Continental, o belíssimo LP Vitória Régia, contendo as músicas (Lado A) 1) Espadas Cruzadas, 2) Ao São Francisco, 3) Estrela do Silêncio, 4) Chapéu de Palha. / Viola e Navalha. 5) Memorando, 6) Bruxuleio e (Lado B) 1) Vitória Régia, 2) Fogo Branco, 3) Suíte João de Barro / Obra e Graça, 4) Macho e Fêmea, 5) Asas e Bandeiras, 6) O Fim., todas de parceria com Mário Margutti.
Digo belíssimo, porque o disco está repleto de Minas Gerais (fala de Ouro Preto), é poético e o trabalho de capa é de altíssima qualidade artística. Merecia até um relançamento em CD.
A música Vitória Régia, que faz uma colagem bem feita e inteligente da Carta de Pero Vaz de Caminha, de “clássicos” da literatura brasileira, passando por Gonçalves Dias e José de Alencar, entre outros, e de vocábulos de línguas indígenas, tocava na seleta Rádio Jornal do Brasil AM.
Fui assistir a seu show, no dia 11/09/1979, na Sala Sidney Miller, da FUNARTE, e fiquei encantado com o seu trabalho e a sua voz, que me fazia lembrar o meu “ídalo” Milton Nascimento, que considero um Patrimônio Musical da Humanidade.
Negro como Milton, Toninho encantava pela simpatia e simplicidade. Saí de lá com o disco e o autógrafo do cantor.
Chamou-me a atenção a letra da música Memorando, a qual publicamos aqui integralmente:
“Disse a Musa Brasileira:
- Meu moleque aprendiz:
poeta é um barco vadio
entre o espanto e a cicatriz.
Na colônia, Inconfidentes.
No Império, Abolição.
Vinte e dois, foi Modernismo.
No presente, a mutação.
Voai, Santos Dumont.
São Villas Lobos e Boas.
Dizei, meu Castro Alves,
que a praça sempre é do povo.
Olhai a pedra Drummond,
que em cada sertão
há sempre um guimarães
plantando Rosas e Veredas.
Esta renascença
é uma travessura:
Vai, Vera Cruz,
à cruz verá.”
Em agosto de 1982, escrevo a Drummond, comunicando-lhe não ter recebido carta de Cora Coralina e pergunto-lhe se conhece a canção Memorando, do também mineiro Toninho Café:
“Rio, 24 de agosto, 1982
Prezado Tangerini:
O endereço de Cora Coralina, que eu tenho, é Casa Velha da Ponte, GO, CEP 76600. Se escrevi Casa Velha do Campo, terá sido por distração. Ou minha letra estava confusa? Ela é muito conhecida na velha capital goiana. Não sei como não recebeu sua carta. Ou, por estar velhinha, não pôde responder?
Sabia, sim, da música do Toninho Café.
Abraço do
Drummond.”
Como vemos, o poeta itabirano, estava sempre antenado com o planeta e sabia de tudo o que acontecia no mundo da literatura e da música.
Mas, a propósito... Por onde anda o mineiro Toninho Café?
Nelson Marzullo Tangerini, 53 anos, é escritor, jornalista, poeta, compositor, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br ], onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini.
nmtangerini@gmail.com, nmtangerini@yahoo.com.br