Em um certo domingo...
Abriu uma garrafa de vinho, daqueles bem baratos e enjoativos e que toda pratileira de bar possuia, acendeu um cigarro e colocou um disco pra rodar, na vitrola o bom e velho Elvis animava aquele domingo chuvoso, porém bonito.
Pensou na vida,nos amores e desamores, e em tudo o que tinha passado antes de chegar ali, naquele apartamento vazio com quadros coloridos por todos os cantos, e sem nenhum espelho, já que acreditava que através dos espelhos podia-se ver a alma, e a sua já não existia mais, sendo assim não fazia sentido ter algo que refletisse o seu vazio.
Olhou pra fora e viu o quanto chovia e sentiu uma vontade absurdamente doida de se jogar na chuva, molhar o corpo, sentir seus pés correrem por chãos gelados que todas aquelas grandes Avenidas possuiam, mas ainda não se sentia preparado pra ver a solidão que aquela cidade escondia em cada esquina, não se sentia preparado pra ver a dor estampada na janela de cada "arranha-céu", prédios feitos de concretos tão firmes e ao mesmo tempo tão sem base alguma, parecia que aquela cidade em qualquer momento poderia vir para baixo, matando cada sujeito que pensava ser feliz ali, em meio ao nada.
Uma taça, duas taças, uma garrafa, duas garrafas, um cinzeiro cheio de cigarros que foram acesos e apagados logo em seguida, algumas brasas queimando por si só, e no olhar um ar de quem se sentia sozinho, tão sozinho quanto a solidão das pessoas tão julgadas por ele.
Colocou uma almofada na cabeça e chorou enquanto anoitecia lá fora e Elvis encerrava o dia ironicamente cantando Wise men say only fools rush in..., pois é, somente os tolos...