MUNDO CRUEL
Hoje, início de semana e final de mês, eu, mais uma vez, me deparei com a realidade crua dos tempos atuais, onde a violência impera e ninguém é de ninguém. Infelizmente, o mundo caminha para a sua total indiferença para com as minorias, principalmente, para com os idosos e para com os portadores de necessidades especiais.
Quando falo em violência, falo da violência física, é claro, mas também, de outros tipos de violência onde o violentado sequer sabe como se defender.
Lembro-me do tempo em que respeitar os mais velhos era uma tradição em primeiro plano, assim como, acatar as ordens dos pais, sem discuti-las, era um gesto de respeito, admiração e amor. Isso valia, também, e sobretudo, para os que dependiam dos ditos normais para poderem sobreviver.
Hoje em dia, já não encontramos, com tanta facilidade, a compreensão e o carinho para com os que, infelizmente, vivem num mundo particular, sem noção disso que nós chamamos de realidade.
Conheço, desde sua infância, um jovem, hoje já adulto, chamado carinhosamente de “Cezinha” que, infelizmente, sofre de uma deficiência que o faz ter uma idade mental de uma criança de mais ou menos sete anos de idade que, por isso, não desenvolveu, também, a sua linguagem.
Morei alguns anos numa casa vizinha à casa dos pais dele. Nunca, em nenhum momento “Cezinha” – mesmo sendo excepcional – fez ou deixou de fazer alguma coisa que pudesse pôr em risco a segurança de minha família, incluindo aí, a segurança de minha filha que, na época, tinha – e continua tendo – a mesma idade cronológica da dele.
“Cezinha” cresceu. Tornou-se um homem feito. Mas continuou e continua menino no seu mundo intelectual, sem perceber que, em sua volta, o mundo dos que não respeitam mais as velhas regras sagradas da sociedade – entenda-se ética – proliferam de uma forma assustadora, alimentados que são, pela desigualdade social, a marginalidade, o consumo de drogas e a brutalidade de sentimentos.
Há pouco mais de um ano atrás, em visita a um amigo jornalista, vi a primeira cena de maldade contra “Cezinha”: deram-lhe bebida, tomaram o dinheiro que ele levava e o deixaram embriagado no meio da rua, sem saber o que fazer. Quando eu cheguei para socorrê-lo, ainda vi uns rapazes dando-lhe chutes porque o mesmo, sem saber onde fazer – e sentindo urgência – tentou fazer xixi por trás de umas árvores, perto da casa desses jovens.
Eu o socorri. Eu e esse amigo não deixamos mais ninguém encostar a mão nele. Trouxe-lhe para casa. Sofri, vendo aquele rapaz olhar para os lados, sem saber onde estava, com vontade de fazer uma necessidade fisiológica e não saber porque não deixavam e, ainda por cima, batiam nele. Doeu em mim, eu juro!
Conversei, depois, com seus familiares. Fui à busca daquilo tudo. Porque, por exemplo, “Cezinha” estava tão distante de casa, porque se encontrava na companhia de pessoas estranhas, como ele tinha começado a beber? Enfim, não me conformava com a cena que tinha presenciado, com a falta de solidariedade e a não compreensão dos que são considerados normais.
Fui informado que, de uns tempos para cá, ele tinha se tornado rebelde e que saía de manhã, de casa, num descuido dos familiares e, muitas vezes, quando a noite chegava, ninguém conseguia localizá-lo, passando, o mesmo, até dois dias sem aparecer em casa. Lamentável!
Hoje, tendo que ir a uma loja no centro, quando desci do automóvel, vi um jovem se jogar de encontro a um caminhão, só sendo salvo devido aos reflexos do motorista que o guiava. Ainda perplexo com a cena, tentei ajudar, pegando-o pelos braços para tirá-lo do meio da rua. Qual não foi a minha surpresa quando o reconheci: era “Cezinha”, em estado deplorável, todo sujo, muito magro, os olhos esbugalhados – completamente fora de si. Com certeza, tinham-lhe dado alguma substância proibida e, pior, misturada com bebida.
Quando eu o peguei, ele quis usar de violência tentando se desvencilhar, porém, estava tão debilitado que não conseguiu nem sequer me forçar a fazer força. Por sorte ele me reconheceu – a mim e a minha esposa que estava presente e que serviu de amparo para que ele se acalmasse, pois ele sempre nutriu um carinho singular por ela. Em seguida, e assim como toda pessoa que se encontra perdida e de repente vê alguém que lhe é familiar, ele me abraçou e desandou a chorar e falar coisas ininteligíveis.
Eram súplicas. Abraçou-se a mim e me obedeceu. Coloquei-o dentro do carro, no banco traseiro, junto com minha esposa. No percurso de volta, ele sempre pedia, chorando, que não deixasse que “dessem” nele. Prometi que nada, dessa vez iria lhe acontecer. Entreguei-o a um tio. Expliquei-lhe tudo. Pedi que eles tomassem providências. Internassem-no.
Na saída, “Cezinha” me olhou agradecido, e eu fiquei a pensar sobre o que um ser humano é capaz de fazer para praticar o mal, pois aliciar um portador de necessidades especiais, dar-lhe drogas é o mesmo que praticar um homicídio. Mundo cruel!
Hoje, início de semana e final de mês, eu, mais uma vez, me deparei com a realidade crua dos tempos atuais, onde a violência impera e ninguém é de ninguém. Infelizmente, o mundo caminha para a sua total indiferença para com as minorias, principalmente, para com os idosos e para com os portadores de necessidades especiais.
Quando falo em violência, falo da violência física, é claro, mas também, de outros tipos de violência onde o violentado sequer sabe como se defender.
Lembro-me do tempo em que respeitar os mais velhos era uma tradição em primeiro plano, assim como, acatar as ordens dos pais, sem discuti-las, era um gesto de respeito, admiração e amor. Isso valia, também, e sobretudo, para os que dependiam dos ditos normais para poderem sobreviver.
Hoje em dia, já não encontramos, com tanta facilidade, a compreensão e o carinho para com os que, infelizmente, vivem num mundo particular, sem noção disso que nós chamamos de realidade.
Conheço, desde sua infância, um jovem, hoje já adulto, chamado carinhosamente de “Cezinha” que, infelizmente, sofre de uma deficiência que o faz ter uma idade mental de uma criança de mais ou menos sete anos de idade que, por isso, não desenvolveu, também, a sua linguagem.
Morei alguns anos numa casa vizinha à casa dos pais dele. Nunca, em nenhum momento “Cezinha” – mesmo sendo excepcional – fez ou deixou de fazer alguma coisa que pudesse pôr em risco a segurança de minha família, incluindo aí, a segurança de minha filha que, na época, tinha – e continua tendo – a mesma idade cronológica da dele.
“Cezinha” cresceu. Tornou-se um homem feito. Mas continuou e continua menino no seu mundo intelectual, sem perceber que, em sua volta, o mundo dos que não respeitam mais as velhas regras sagradas da sociedade – entenda-se ética – proliferam de uma forma assustadora, alimentados que são, pela desigualdade social, a marginalidade, o consumo de drogas e a brutalidade de sentimentos.
Há pouco mais de um ano atrás, em visita a um amigo jornalista, vi a primeira cena de maldade contra “Cezinha”: deram-lhe bebida, tomaram o dinheiro que ele levava e o deixaram embriagado no meio da rua, sem saber o que fazer. Quando eu cheguei para socorrê-lo, ainda vi uns rapazes dando-lhe chutes porque o mesmo, sem saber onde fazer – e sentindo urgência – tentou fazer xixi por trás de umas árvores, perto da casa desses jovens.
Eu o socorri. Eu e esse amigo não deixamos mais ninguém encostar a mão nele. Trouxe-lhe para casa. Sofri, vendo aquele rapaz olhar para os lados, sem saber onde estava, com vontade de fazer uma necessidade fisiológica e não saber porque não deixavam e, ainda por cima, batiam nele. Doeu em mim, eu juro!
Conversei, depois, com seus familiares. Fui à busca daquilo tudo. Porque, por exemplo, “Cezinha” estava tão distante de casa, porque se encontrava na companhia de pessoas estranhas, como ele tinha começado a beber? Enfim, não me conformava com a cena que tinha presenciado, com a falta de solidariedade e a não compreensão dos que são considerados normais.
Fui informado que, de uns tempos para cá, ele tinha se tornado rebelde e que saía de manhã, de casa, num descuido dos familiares e, muitas vezes, quando a noite chegava, ninguém conseguia localizá-lo, passando, o mesmo, até dois dias sem aparecer em casa. Lamentável!
Hoje, tendo que ir a uma loja no centro, quando desci do automóvel, vi um jovem se jogar de encontro a um caminhão, só sendo salvo devido aos reflexos do motorista que o guiava. Ainda perplexo com a cena, tentei ajudar, pegando-o pelos braços para tirá-lo do meio da rua. Qual não foi a minha surpresa quando o reconheci: era “Cezinha”, em estado deplorável, todo sujo, muito magro, os olhos esbugalhados – completamente fora de si. Com certeza, tinham-lhe dado alguma substância proibida e, pior, misturada com bebida.
Quando eu o peguei, ele quis usar de violência tentando se desvencilhar, porém, estava tão debilitado que não conseguiu nem sequer me forçar a fazer força. Por sorte ele me reconheceu – a mim e a minha esposa que estava presente e que serviu de amparo para que ele se acalmasse, pois ele sempre nutriu um carinho singular por ela. Em seguida, e assim como toda pessoa que se encontra perdida e de repente vê alguém que lhe é familiar, ele me abraçou e desandou a chorar e falar coisas ininteligíveis.
Eram súplicas. Abraçou-se a mim e me obedeceu. Coloquei-o dentro do carro, no banco traseiro, junto com minha esposa. No percurso de volta, ele sempre pedia, chorando, que não deixasse que “dessem” nele. Prometi que nada, dessa vez iria lhe acontecer. Entreguei-o a um tio. Expliquei-lhe tudo. Pedi que eles tomassem providências. Internassem-no.
Na saída, “Cezinha” me olhou agradecido, e eu fiquei a pensar sobre o que um ser humano é capaz de fazer para praticar o mal, pois aliciar um portador de necessidades especiais, dar-lhe drogas é o mesmo que praticar um homicídio. Mundo cruel!
Obs. imagem internet