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Emoções
Visitas
Inventei fazer algumas visitas. Seriam especiais e saudosas. Seriam sérias e melancólicas...
Visitas à portas escancaradas, com janela abertas, esburacadas, deixando ver tudo do infinito ao seu redor, sem limites, sem razões, sem temores, sem receios. Afinal, sem nada!!!
Visitas aos que já se foram, neste campo abençoado, simples calado, vilas, casas agrupadas nos ecos silenciados, com vizinhos pra todos os lados. Campo Santo que abriga sem reclamar seus direitos, sem exigir nada, só ofertando as doações de espaços morados, por tempos determinados. De deveres? Só amparo na terra fecunda que da vida fora, restos cansados, extingüidos de tanta luta, de tanto sofrer, de tanto amar, do muito viver...
Costumo me oferecer, como alma vivente, no meio dos tão ausentes, dos méritos agora desbotados, desmarcados, maltratados, enviezados, lutados e ora tão calados. Nessa minha jornada de presença, em orações, clamo certezas e calmarias de razões, de partidas, de separações. Levo meus pensamentos, cobertos com emoções da tanta ausência dos que nos largaram silentes. E nós sempre os deixando pra trás como trastes muito usados, rasgados, sem termos o que mais oferecer, apenas lástima de não mais os ver e compartilhar dos seus anseios, não mais sentidos, agora totalmente adormecidos, num refúgio agregados de idas para o infinito. Estão juntos enfim para todos os lados, numa comunhão forçada, num uníssono clamor de saudades e separações, no misterioso silêncio que os cerca.
Todos nós tememos a morte, por que? Ela não nos acaba, ela só nos transporta ao seio divino do nosso Creador de todas as coisas e de todo nosso Amor. Apenas é uma lacuna, um hiato-rio a nos levar para ambientes diferentes, desconhecidos, tementes, para depois nos devolver mais fortes, nos íntimos viveres, mais sábios nas lições aprendidas, decoradas, sentidas, mais do que relidas, com certezas a nos dar mais vida à nossas futuras vidas...
Pelas aléas vou observando nomes, palavras que vestiram as despedidas, frases soltas da vida em seu arrastar de lutas, de ambições, de vitórias, de paixões, de amores, de desilusões...
Vou passando, vou saudando desconhecidos nomes, orando pelos merecidos repousos, ora aqui, ora acolá, me assegurando que o bater do martelo da vida, em leilões de almas, que um dia habitaram corpos de virtudes, se aglutinam agora, formando essa realidade.
De vez em quando, um nome conhecido, faz-me lembrá-lo de seus feitos, suas presenças e me ponho a mais pensar, em tudo me inteirar, nesta caminhada pelos silenciosos caminhos que ao pisá-los, deixo pensamentos, orações de acenos mudos, mas presentes emoções.
Nós só cantamos a vida. Nada mais... E a verdadeira vida aonde estará? Aqui? Acolá? Aonde deve estar? Nos nossos corações, ela está em qualquer lugar, em todo lugar. Uma jóia a considerar, amores a suspirar, tudo para se fazer gostar.
Amo a vida, tudo que ela arrasta e me oferece. Do tudo que me enternece, amo demais a vida, a minha vida... Porisso e por aquilo, vejo-me, de vez em quando, na vontade de levar resquícios dela para polvilhar aquele lugar, de moradas de pessoas que se mudaram, em espíritos para outras dimensões, outras paragens.
Não devemos temer, sentir horror, pois pra lá, um dia também iremos viajar e cumprir nossa etapa de simples passantes desta vida terrena, dessa vida vivida e tão querida .
Da plenitude de prazeres que um dia conhecemos, ou um dia conheceremos, uma pausa para meditação. Que seja coerente, sincera, inesgotável pendor de intenções de usar e abusar de seus frementes pensares e conclusivos gostares .
Vocês devem estar estranhanoo meu tema de hoje, mas sou de não estacionar em alguns em detrimento de outros. Sou criativa nas minhas palavras e nos meus pensamentos e se os misturo de vez em quando seriam para só espalhar meu leque de criações e imaginações.
Que a aura de Nosso Senhor nos indique e nos dê a mão e mostre o quão pequeninos ainda somos, para que certos exemplos nos dêem a certa direção, no infinito timão da nossa vida de então...
Saudades dos que já se foram, dos que partiram, nos antecederam e já estão se preparando para retornarem ao encanto de uma nova vida. Sobretudo, na presença dos que ainda amamos, apesar dos pretensos pesares, nos ligamos intensamente em pensamentos e orações de eternas saudades...
Maria Myriam Freire Peres
Rio de Janeiro, 18 de 0utubro de 2005