Papo de Bar

Às vezes me sinto um idiota, isso sempre no dia seguinte, porque enquanto a coisa está rolando quero mais é que o mundo acabe num “Big-Barrr Cósmico”... Para morrer bêbado mesmo! Eu sei... isso não é nada bom. Bom mesmo são os papos, as piadas, aquilo que se aprende num barzinho de fé, do tipo que o bom cidadão pode freqüentar.

Está na cara que uma das coisas mais importantes é o dono do estabelecimento. É muito importante que ele saiba aturar a galera do bem e expulsar a galera do mal. Não quero dizer que todos sejam amigos, os freqüentadores devem saber respeitar as loucuras dos camaradas de boteco. Bar bom é isso, um lugar pra relaxar depois de um dia exaustivo de trabalho. Os aposentados que exponham seus motivos, estão ali por quê? Sei lá, vai ver que está com a boca cheia de teias de aranha por morar sozinho, está de saco cheio da família e dos que só vivem pedindo coisas que fatalmente vão gerar gastos... Minando, assim, o tempo que podem ficar no bar... Sei lá o motivo deles! Pode ser um hábito simplesmente.

No botequim que gosto de freqüentar o dono é um cara singular. Já trabalhou em boates no Rio, teve várias experiências como empregado de restaurantes, foi cobrador de supermercado, o que lhe garante um retorno do fiado, coisa corriqueira em bares do interior, sem fiado não funciona! Ele é quase um parente. Sabe tomar conta dos clientes... Já me colocou para correr em algumas ocasiões, evitando que eu me metesse em alguma encrenca mais séria. Conta uns causos lá do interior de Minas, fornece um tira gosto de qualidade, por vezes no 0800, como ele mesmo proclama. Sabe tratar os bons pagadores com lisura e firmeza. Bom... Importante mesmo é que possui mais de um freezer só pra gelar a cerveja, são vários na verdade, lá sempre tem uma cerveja super-gelada. Ele é “pastel com carne”, grande mestre Dejair!

O importante é você saber que nos bares vivemos uma espécie de “jornada nas estrelas”. Devemos sempre estar prontos para entrar em “alerta vermelho” e ordenar: “Shields up”. É uma viagem muito louca mesmo, dependendo de quem chegue para papear. Por mais que o sujeito saiba quem é você, mesmo conhecendo o tal que apareceu para beber, sequioso de sua companhia, como prever suas intenções? Pode ser que o companheiro esteja num daqueles dias que ficou meio “doidinho”, querendo, na marra, contar uma história triste pra você, um tremendo “xarope”, ou dependendo de seu estado etílico-emocional um “catarro” mesmo.

Existem os que querem discutir política a qualquer preço. Não adianta você estar em dia com os jornais, ele quer te convencer, pró isso ou pró aquilo, mesmo sabendo que sua opinião é completamente diferente da dele, aquele tipo “apaixonado” por determinados políticos, sem causas, sem projetos de vida ou nação. Acho um pé no saco!

Outros se aborreceram no trabalho e querem provar que o chefe é um canalha. Pombas! Não temos nada com aquilo e vamos ouvir o relato do dia ruim do cidadão. Pior é quando concordamos com o chefe. Como não aturar isso? Se perceber que não concordamos... Quem vai acabar aborrecido somos nós! A pessoa vai ficar repetindo a mesma história, na maldita esperança que mudemos de idéia, mesmo quando dizemos: já entendi... Já entendi! – tremendo mala.

Temos ainda os que brigaram com a mulher, perderam uma aposta, o time foi mal no campeonato, estão cheios de dívidas sufocantes, a sogra está passando uns dias em casa, estão devendo um dinheiro a ele e não querem pagar, os filhos dando toda sorte de dores de cabeça... E por aí vai. Se nessas horas não “levantarmos os escudos” corremos o risco de sair mais tensos do que quando chegamos. O melhor procedimento no caso de pessoas que grudam, mesmo quando mudamos de mesa ou grupo, é fingir que vai ao banheiro e mudar de bar mesmo.

Temos que agradecer os que mandam bem nos comentários, não reclamam por futilidades, discutem a respeito de coisas novas, te ensinam algo que você estava necessitando saber. Digo isso porque ficar tendo “aulas” sobre o que não interessa também é muito chato. Trocando em miúdos o companheiro de bar não pode “azedar” sua cervejinha do fim de tarde, afinal de contas é pra ser uma “happy hour” e não a penosa espoliação feita pela tal “Bar-Tira”.

Eu sei... Eu sei... Já estão me cobrando os dias em que fui tudo isso também! Já enchi muito o saco dos companheiros, mas não sou pegajoso não, logo que sinta que não estou agradando vou encher o saco de outro... Às vezes fico sem amigos mesmo... Largado, sentado numa mesa com a boca coçando, com vontade de aporrinhar um incauto.

Papo de bar é tudo isso. Começa com as pessoas dentro de suas razões, mantendo até um nível de percepção aceitável, sabem quando estão incomodando. Depois de certo teor alcoólico as discussões vão se intensificando, o volume das vozes aumenta, todos que permanecem na “jornada” vão virando “monstros”, as rusgas surgem...

Se o bar é bom e a cerveja está sempre gelada, no dia seguinte estamos todos lá novamente, não lembramos de absolutamente nada... Só não podemos esquecer de pagar a conta!

A.Luiz Canelhas Jr. – 25/10/2006

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Saquarema – RJ