DRUMMOND, JOHN LENNON E A IRLANDA
CIDADÃO DO MUNDO
Nelson Marzullo Tangerini
Em maio de 2001, enviei a Drummond um poema meu, Holocaustos, publicado em espanhol na revista COMUNIDAD/42, página 40, Maio/junho 3:48, Estocolmo, Suécia.
É uma poesia nitidamente humanista, preocupada com os problemas históricos do mundo, com a incompreensível agressividade humana, convidando o homem a ser mais tolerante e a uma convivência pacífica entre seus semelhantes:
“Turcos matan Armenios
Americanos matan Indios Y Japoneses
Alemanes matan Judios
Rusos matan Húngaros y Checos
Ingleses matan Irlandeses
Españoles matan Vascos
Iranies matan Curdos
Brasileños matan Indios
Judios matan Palestinos
Nuestra historia
Está repleta de holocaustos
Mañana ellos la tergiversarán
Engañarán a nuestros hijos
Que sólo alcanzarán la consciencia
Y la inteligencia
A los 30 o 40 años.” (*)
Recortemos, pois, o holocausto do povo irlandês.
O ex-Beatle John Ono Lennon, de ascendência irlandesa, retrata bem em The Lucky of the Irish (A sorte dos irlandeses) e em Sunday Bloody Sunday (Domingo sangrento Domingo), do Lp, e agora Cd, Sometime in New York City, como os ingleses, protestantes, se apoderaram da Irlanda católica e, depois, dividiram-na, criando a Irlanda do Norte e o Éire, ou seja, República da Irlanda, independente, depois de muitas lutas aguerridas.
A História registra a veracidade deste mostruoso episódio: os “whigs”, progressistas ingleses precursores do Welfare State, fizeram os irlandeses, naturais da terra, conhecerem a fome em sua forma por demais aguda, com as crudelíssimas Leis do Milho, de 1928, as quais, aplicadas contra a ilha de São Patrício, patrono da Irlanda – o santo, diz a lenda, com um cajado batendo no chão expulsou as serpentes do território irlandês -, reduziram a população irlandesa de oito milhões para quatro em um século.
Acreditando que a Humanidade precisa rever sua história de maldades para, enfim, mudar e evoluir [por isto somos chamados de Seres Racionais], enviei meu poema a Carlos Drummond de Andrade. Intrigava-me o fato de ser poeta e Humanista. Tristão de Atahyde, nosso irmão Alceu do Amoroso Lima, já ressaltara, certa vez, num ensaio, a grandeza do poeta itabirano: o mais universal dos modernistas. Pedi-lhe, pois, sua apreciação.
Escreve-me o poeta:
“Rio, 21 de maio de 1981
Prezado Nelson Tangerini:
Parabéns pelo aniversário – e votos de poesia e felicidade.
Gostei, sim, do poema; olhe, porém, que não sou crítico, mas sim simples leitor.
Poeta humanista? Acho que todos os poetas verdadeiramente poetas o são.
Cordialmente, o Carlos Drummond.”
Nelson Marzullo Tangerini, 53 anos, é escritor, jornalista, poeta, compositor, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores [ clube.escritores@uol.com.br ], onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini.
(*) Holocaustos entraria, posteriormente, no meu livro Cidadão do Mundo, todo ele de poemas dedicados à causa Humanista, editado, em 1995, pela Achiamé, do Rio de Janeiro.
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