Responsabilidade de escritor

O verdadeiro artista tem múltiplas personalidades, isso faz parte de nossa essência. Sentir os sentimentos dos outros.

Pergunto: Quando Jorge Amado escreve as emoções de uma prostituta, ele é uma?

Quando escrevemos a frase de uma criança falando em um de nossos textos, somos ela?

Somos o bandido da história? O assassino?

Ou só nos vestimos de "mocinhos e donzelas" ?

Não vou esperar pela resposta de vocês, vou ser egoísta, e responder agora mesmo.

Sim, é o que penso... somos cada um deles, vivendo os seus sentimentos, descrevendo bondades e maldades, cenas às vezes verídicas, mas outras tantas imaginárias, porque está em nossa gênesis, está na concepção do artista, a percepção do “criar”, de viver o irreal, de inventar o que não existe, ou de descrever um fato, de narrar uma atitude ou um sentimento.

E todas as palavras estão impregnadas dessa nossa impressão digital. Já repararam que podemos ler textos escritos em diversas fontes (Word), mas podemos reconhecer de quem é a letra?

Reconhecer o autor através do seu jeito de escrever?

Já tentaram fazer isso? Não olhar quem enviou e antes do texto terminar na barra de rolagem do e-mail, você já saber quem o escreveu?

Pois é, acredito realmente que somos cada um de nossos personagens, assim como o ator veste-se de Maria, sendo João, nós vestimos a “roupa” de nossos personagens através das letras, que lhes dão personalidade, sentimentos, atitudes corretas ou imperdoáveis. Nós lhes damos vida. Assim como o nascer de um pequeno ser, ele é gerado, alimentado de ilusões, cresce dentro da gente e é expelido. Sobrevive ou morre, depende unicamente de como é que vamos tratá-lo depois de dar-se a sua parição.

Quanto aos meus erros, disse anteriormente, por favor, me avisem... não gosto de ver texto com erros de português.

Nossa língua é complexa, e para qualquer letrado já é difícil, imagine para o resto...

Antes que entendam de maneira errada o que vou dizer, vou dar um exemplo que aconteceu comigo hoje. Eu recebi um e-mail de uma leitora, dizendo que o meu texto era tudo o que ela queria dizer a outra determinada pessoa, mas que não poderia fazê-lo, porque tinha um erro, que para ela era imperdoável. Escrevi “passou horas" ao invés de “já se passaram horas”. Envergonhada até a alma, desculpei-me e mandei as correções para os sites que haviam publicado o texto.

Contudo, queria lhes dizer que não concordo com a maioria dos novos autores. Não mesmo, desculpem-me se estou sendo dura, mas é o que penso. Não acho que, porque escrevemos nossos sentimentos eles têm de vir com erros de português. Nunca!

Acredito que, no mínimo, devemos ter o cuidado de passar o texto no corretor. Devemos sim, nos preocuparmos com os erros ortográficos, de pontuação, gramaticais e de concordância.

Queremos ser escritores ou meros tradutores de sentimentos?

Se vou mandar um texto para publicação, se vou mostrar para o mundo inteiro meu trabalho, não quero estar de “cara suja ou despenteada”, não estou falando de “colocar maquiagem, perfume, etc...” estou falando de apresentação, conteúdo e forma.

Eu tive um professor na Faculdade que, que adorava dar notas zero no primeiro bimestre do primeiro ano, ele já era conhecido por isso. Sabem qual era a razão dos zeros? Falta de pontuação, erro gramatical, o mais simples possível. A gente queria morrer de raiva, pois achávamos que ele tinha de ler o conteúdo e não a forma. E ele dizia que o trabalho "tem de ter a cara da gente" e que para um profissional, seja ele profissional de letras ou não, pois argumentando disse:

- De que adiantaria ao advogado fazer uma belíssima peça, se perdesse o prazo para impetrar a ação?

- De que adiantaria o escritor, escrever belíssimos versos se não há pontuação?

Sabemos todos, que nossa língua é ardilosa e que para um simples “ai”, um ator pode representar dezenas de textos, tudo depende do contexto em que ele está inserido, das vírgulas, dos dois pontos, da exclamação.

Existem vários corretores ortográficos e de sinônimos e estamos a um clique deles, por que não usá-los? Estamos na era tecnológica, e o mouse do lado direito nos dá aproximadamente de 10 a 15 minutos adiante do mais próximo dicionário que um escritor deve sempre ter à mão.

O dicionário é um instrumento de trabalho, e está para o escritor como a tinta para o pintor, como a calculadora para o engenheiro, como o piano para o maestro. Um dos nossos instrumentos de trabalho essencial é o dicionário.

Fazer versos de improviso, brincar com as letras, dizer coisas erradas propositalmente também faz parte do jogo de escrever, contudo, para que o texto vá a público é preciso resguardar a nossa imagem, nossos conhecimentos, nosso valor.

E gostaria ainda, de lembrar aos amigos, que estamos escrevendo nossa história, e que temos a responsabilidade de passarmos corretamente os nossos pensamentos, ela poderá ser lida somente hoje e por muitos, mas poderá ser lida amanhã por um número infindável de pessoas e pior...ainda não tive um, mas se meu neto for mostrar a alguém um texto meu, quero que sinta orgulho de mim, e não gostaria que alguém lhe dissesse : - É... bonito, o texto, mas sua avó escreve mal prá caramba!

Sabe pessoal, não gostaria de ter aqui feito um discurso, como fiz, mas gostaria de ter escrito isso há mais tempo. Tenho lido muitos textos com excelente conteúdo literário, mas com erros infantis, e que pode ocorrer com qualquer um. Às vezes alguém está lendo e vê um erro desses e simplesmente deixa de ler o resto, ou se o leitor tiver a gentileza de lhe mostrar o erro, podemos ainda consertá-lo. Pergunto: quantos foram os leitores que deixaram de enviar o texto porque o erro os incomodou? Para quem estou falando? Qual o meu público alvo?

Desculpem-me amigos, mas não vão ser aqueles que não tem nenhuma cultura, porque não tem possibilidade financeira a ter acesso a um livro, quanto mais a tecnologia que estamos utilizando.

Portanto, espero que com esse meu discurso de desabafo, vamos dizer assim, e mostrando meu erro, eu evite que alguns de vocês passem por uma situação constrangedora como essa.

Rosy Beltrão

21/02/01