PASTEL DE FEIRA...

 

     Ando com saudade de uma coisa que fazia todos os domingos pela manhã. Ir a feira livre aqui do bairro. Para alguns, pode parecer um programa absolutamente bobo ir a feira , mas eu gostava , não só por ter mais uma oportunidade de fazer uma média com a patroa trazendo legumes e frutas fresquinhas , mas principalmente pelo verdadeiro motivo que me levava aquele local barulhento e que durante muito tempo freqüentei todos os domingos pela manhã, bem cedo.

     O segredo da minha satisfação de ir àquela feira é que, depois de pacientemente peregrinar em várias barracas sempre parava no cantinho especial da Dona Maria, justamente para comer um maravilhoso pastel de carne e tomar um caldo de cana.

     Era um programinha simples mas , vou confessar uma grande verdade.... nunca na minha vida tinha comido um pastel de carne tão gostoso ! Sequinho, praticamente sem nenhuma gota de gordura pingando, aquele pastel é das melhores lembranças e saudades que tenho na vida.

     Aliás, conheço certa pessoa que sente saudade do seu primeiro peixinho de aquário, portanto, por que eu não poderia sentir saudades do pastel de carne da barraca da Dona Maria ?

     O interessante é que sempre ouvi falar que os chineses ou os japoneses é que sabiam fazer e fritar pastéis. Só que a Dona Maria não era chinesa nem japonesa, era baiana. E que eu soubesse ou me lembrasse , nunca tinha ouvido falar de nenhuma baiana que fritasse pastéis em feiras. Isso não importa ! Chinesa, japonesa ou baiana, aqueles pastéis eram incríveis.

     Na minha modesta opinião aqueles pastéis tinham que ser escritos e descritos com letras maiúsculas. Primeiro porque eram grandes, enormes. Segundo porque seu recheio tinha uma carne macia, sem gordurinhas e ainda por cima vinha acompanhado de uma enorme azeitona preta.

     Vou confessar uma coisa.....o meu salgadinho predileto são as empadinhas de palmito. Principalmente aquelas que esfarelam na nossas mãos . São de fato uma delícia. Mas, não tenho conhecimento de nenhuma feira que tenha uma barraca vendendo empadinhas de palmito.

     Voltando aos pastéis, além do delicioso recheio onde as vezes poderiam ser encontrados alguns pedaços de ovo cozido, quero ressaltar que eram absolutamene crocantes.

    E agora me digam se concordam comigo! Imaginem um dia de sol, um calor sufocante, duas sacolas pesadas, a patroa reclamando que está tudo caro e qual é o consolo ? Parar na barraca da Dona Maria e pedir dois pastéis e um caldo de cana com pouco gelo.

    É claro que o pastel da Dona Maria era muito grande para a patroa , que sempre deixava a metade. Que desperdício ! É lógico que ela recebia minha ajuda para devorar aquele petisco.

   Sinto saudades daqueles dias, do riso aberto e sincero daquela belíssima cozinheira, sempre com palavras de carinho para seus fregueses, a quem chamava de filhos.

   Nunca soube se Dona Maria era casada ou se realmente tinha filhos. Nunca tive a oportunidade de vê-la triste. Estava sempre sorrindo e nunca se incomodou ou reclamou do calor sufocante que ela certamente sentia junto daquele enorme tacho.

    Certa vez perguntei qual era o tempero, ou o segredo para que aquele pastel pudesse ficar tão gostoso. Com seu riso aberto e franco ela simplesmente respondeu que não tinha nenhum segredo , nada especial. Ela simplesmente colocava ali todo seu amor, todo o carinho pelo que fazia.

   Nunca mais vi Dona Maria. Alguém certa vez comentou que ela tinha adoecido e não ia mais voltar a feira. Aliás, a feira não foi mais a mesma. Perdeu a graça ! Apesar das frutas e verduras fresquinhas, das promoções, do sol forte , das reclamações da patroa sobre os preços cobrados, o que valia mesmo à pena ir até aquele lugar eram os pastéis de carne e o caldo de cana. O caldo de cana nem tanto, mas os pastéis !!!

   Podem pensar que é nostalgia, podem pensar que sou saudosista. Mas, pensando bem, qual é o problema , qual é o erro ou o delito porventura cometido esse formos saudosistas, se tivermos saudades de um simples pastel de carne.

    Aliás, mais uma vez quero deixar bem claro que não era um simples pastel. Aquele era crocante, não tinha quase nenhuma gordura pingando, além de às vezes serem encontrados pedaços de ovo cozido junto ao recheio. Isso sem esquecer a azeitona preta. Uma delicia....


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(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 30/10/2008
Reeditado em 05/02/2013
Código do texto: T1257231
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