As paisagens de um olhar
À distância, o azul é infinito para o olhar. Não há espaços intangíveis, quando o coração se refestela no horizonte da saudade. Tudo é possível, quando o olhar se deixa alcançar pelos passos de um amor, pelas marcas de um sonho...
Quantas vezes, não nos vemos em cenários que existem apenas em nossa visão? Guiados por uma ternura imensa ou ainda por um amor acalentado, desvestimo-nos de quaisquer impossibilidades e tornamo-nos personagens de histórias que se tecem, unindo e entrelaçando num mesmo tear, os nossos mais íntimos anseios, os nossos mais profundos desejos. O olhar borda a nossa história com fios que tramam encontros que não prevíamos.
O olhar pode escrever capítulos não vividos, resgatar momentos de pretéritas existências, finalizar os enredos dos nossos “quase”, inventar finais felizes com os nossos “talvez”...
O olhar pode ser uma fresta, uma tela para o futuro, mostrando-nos o porvir no algures não deslumbrado. O olhar habilita-nos a navegar pela imensidão, onde as cores, sons e imagens se projetam em luzes e mistérios.
O olhar é o espelho de nossas buscas e reflexo dos nossos silêncios, quando todas as palavras são insuficientes para que nos confidenciemos ao outro e ao universo.
O olhar é o idioma possível a nos propiciar interseções, quando nos descobrimos em um outro olhar e transformamos o mundo da solidão individual no abraço do reconhecer-se.
O olhar pode preencher ausências, quando se permite convocar pela saudade e os barcos do pensamento ajudam-no a navegar em águas que nos resgatam em renascimentos.
Fernanda Guimarães