A REDE NA JANELA

A REDE NA JANELA

Ann, conforto... A claridade à esquerda, refletida, impedindo uma boa visão, bloqueada por uma cortina improvisada com a rede, foi colocada no seu devido lugar para que a minha sensibilidade não seja interferida e possa falar em coisas que não sei, mas que sinto necessária vir à consciência, neste dia de não querer pensar em nada, só sentir um pouco de conforto físico.

Não sei o que preciso me dizer, mas meu inconsciente está inquieto, cutucando urgências de expor coisas num acúmulo borbulhante reprimido a explodir, pedindo veículo de vir à tona.

Eu nem sei...

Penso que talvez sejam muitas pedras amontoadas e reviradas dentro de mim, que não fazem sentido entre si, que não foram devidamente colocadas, numa construção precária sem massa de rejuntamento, talvez eu fosse a argamassa para todas essas pedras. Vieram de foram e se alojaram indevidamente por si mesmas e, indevidamente por mim recebidas, sem ser avisada e preparada para recebê-las e, quem sabe, até sem as desejar por não fazer o menor sentido para mim. Pedras que mereciam ter ido parar em outro lugar, pois que elas também não sabiam que destino o seu, e me tomaram como incauta, desprevenida, fácil abrigo para a sua inadequação.

Isto é coisa minha não é culpa de ninguém, nem minha.

Só que hoje, preparada para qualquer invasora pedra não desejada, estou limpa, organizada, exigente, e tentando botar ordem e qualidade neste interior de beleza, de excelência, também ansiando e aberta a novas acontecências em sintonia com as minhas características autênticas, fortes, puras, belas, serenas e em equilíbrio conquistado.

A calma serena encontra seu recôndito e seu todo.

A linguagem do inconsciente é esta, está falada. Neste falar, tais pedras em desalinho reconhecem sua origem e, inclinadas, desculpando-se, recolhem-se procurando o seu espaço, silenciando.

MLUIZA MARTINS