Algo bem nosso
Eu procurava não chorar. As lágrimas teimavam em cair. A multidão, braços erguidos, bandeiras agitadas, juntos na mesma fé, elevavam mais e mais esse sentimento em meu peito. A voz no alto-falante: “Quem é essa mulher?”. Confesso que tentei resistir. Era um exemplo de devoção católica. Um exemplo de que o homem busca forças espirituais. O homem sofre, alegra-se e luta pela Fé.
Ali estava um fato concreto de que ele não desiste. Numa caminhada religiosa. “Salve nobre padroeira/ Dessa terra mui querida”. Velas acesas. A ave-maria. Festejar a fé é um ato de amor. E essencial. É o que nos permite continuar vivendo na santa paz de nossa consciência.
O altar. A Virgem Maria. Mãos que rezam que aplaudem. Somos cristãos e Deus é nosso guia espiritual. Se seguimos, é por Ele. Força incomparável. O homem é frágil. Mas a crença o faz prosseguir. Um coração, dois, quatro mil. As ruas caminham na mesma direção, no mesmo ideal. “Pai Nosso que estais no céu...”, tudo a ver com a procissão. O cheiro de parafina. Uma luz- aquela coisa da chama.
Tudo vai bem. É preciso ficar de olhos abertos. Encontrar o olhar. Não o de antes. Ver o imenso, forte, divino, farto amor do Criador. De mente nua, translúcida. Qual será o caminho do amor? Um nome simples, singelo. O povo que clama: “Viva Maria!”. O nome gracioso como o de Teu filho-Jesus.
Por falar Nele, quando é que iremos segui-lo de verdade? Sem medos, sem guerras? Então, lembrei-me de que eu também deveria contribuir. A lágrima enfim desceu. Mansa, calma, sentida. Ergui o braço agitando a bandeira da Virgem do Monte do Carmo e segui a procissão de Maria.