"DANÇA DA SOLIDÃO"
Madrugada chegando... E eu aqui raciocinando sobre coisas simples e tentando conduzir a minha razão para descobrir as verdades que eu ignoro, sabendo eu que para alcançar o meu intento terei que pesquisar os primeiros princípios do conhecimento, a tal da metafísica, para alcançar a verdadeira filosofia.
Paro de pensar para reiniciar a leitura “De Vita Beata” de Sêneca, e quanta coisa diz Sêneca... Sobre felicidade: Todos querem viver felizes, mas não vêem nitidamente o que faz a felicidade”. Sobre a vida diz ele: “ A respeito da vida, jamais se julga, crê-se sempre”. Sobre o ser sábio: “ Tornar-nos-emos sábios, contanto que saiamos da multidão”. Sobre o soberano bem: “Conformar-se com a lei da natureza e com o seu exemplo, eis a sabedoria e acrescenta: “A vida feliz está de acordo com a sua natureza”
Esses conceitos de Sêneca me conduzem até Descartes, precisamente às suas explicações através de cartas dirigidas a princesa Elizabeth de Haia, (1645) que segundo o filósofo, pecava pelo intelectualismo e por ser mais cartesiana do que ele próprio ( a princesa era uma matemática digna de nota). Descartes não concordava com Sêneca em sua totalidade e sobre o “soberano bem” acrescenta três opiniões entre os filósofos pagãos:
A de Epicuro, que disse que era a voluptuosidade;
A de Zenão, que pretendeu que fosse a virtude; e
A de Aristóteles que a compôs de todas as perfeições, quer do corpo quer do espírito.
Para aceitar tais opiniões e acolhê-las como verdadeiras e acordadas entre si, que as mesmas fossem favoravelmente interpretadas, sugeriu Descartes, “pois, tendo Aristóteles considerado o soberano bem de toda a natureza humana em geral, isto é, o que pode possuir o mais completo de todos os homens, teve razão de compô-lo de todas as perfeições de que é capaz a natureza humana; mas isto de nada serve para o nosso uso.”
“Zenão, ao contrário, considerou aquela que cada homem em seu particular pode possuir; eis por que lhe assistiu boníssima razão ao dizer que consiste apenas na virtude, porque não há, entre os bens que podemos ter outro, exceto ela, que depende inteiramente do nosso livre arbítrio. Mas representou esta virtude tão severa e tão inimiga da voluptuosidade, tornando todos os vícios iguais, que só houve, parece-me, melancólicos, ou espíritos inteiramente separados do corpo que pudessem ser seus sectários.”
“Enfim, Epícuro não errou ao considerar a voluptuosidade em geral o contentamento do espírito; pois ainda que o exclusivo conhecimento do nosso dever nos pudesse obrigar a praticar boas ações, isto não nos faria, entretanto, gozar de qualquer beatitude, se daí não nos adviesse nenhum prazer. Mas como se atribui amiúde o nome de voluptuosidade a falsos prazeres, que são acompanhados os seguidos de inquietude, aborrecimentos e arrependimentos, muitos acreditaram que esta opinião de Epícuro ensinava o vício; e com efeito, ela não ensina virtude.
E de tudo o que foi dito nada me basta. O que me basta é Marisa Monte , que me está fazendo companhia, com a sua “Dança da Solidão”, onde canta que a solidão é larva que cobre tudo, é amargura na boca , é dente de chumbo sorrindo, é solidão palavra cravada num coração resignado e mudo no compasso da desilusão, desilusão essa que danço eu dança você na dança da solidão.