Cenas gaúchas
Terceira vez em Porto Alegre. Na primeira, o Plaza Hering (“Plazinha”). Dezembro passado, o Embaixador. E agora? Verba curta, plugado na Net, topei com o – Real Palace. R$ 49,00 a diária, café-da-manhã incluso, por que não?
Sérgio apanhou-me no Salgado Filho. Atraso pequeno, meio-dia e meia, lá fomos nós à – churrascaria (“churrasco amigo”, diz ele). Não que não goste. Mas, viajando desde as 23:30 via pacote bus + aéreo, teria preferido peixe, mamãozinho, sopinha de isopor.
Finda a peleia (ou só começada, que a digestão resistia até mesmo ao chá de boldo), lá vai o amigo no seu tour-relâmpago pela capital do Rio Grande, com ele o meu estômago a reboque. Guaíba pra cá, Guaíba pra lá, Sérgio pára e aponta umas ilhas ao fundo. Avança aos poucos pela rua estreita, procurando vaga, sem ver que, de lá e de cá – ornamento insólito naquele começo de tarde à beira-rio –, casais masculinos entregam-se a um elevado grau de desfrute mútuo. Ao final da via horribilis, movimentos compassados e atitude concentrada, um jovem de tipo atlético, em pêlo (detalhe àquela altura harmônico), faz exercícios de – polichinelo... Consumando a cena, certo velhinho zeloso, celular engatilhado, chuta as roupas do pelado (assim, afinal, de algum modo atingindo o próprio) e aciona a Brigada Militar.
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Chego ao tal. Logo recebo um bilhete – já aberto, lido, amarfanhado –, que a amiga Andrea em boa hora resolvera escrever-me. Pedia-me que, antes do registro, consultasse o correio eletrônico (já pressentia o que vinha). Suspeita confirmada, lá fui eu ao novo endereço sugerido: Avenida dos Farrapos, 45. O hotel era agora o Umbu, imediações da Rodoviária porto-alegrense (“só da Rodoviária”, pensei – o que já era ruim; mas ali ficava, literalmente, a própria zona). E olhe que, na avaliação da moça – Andrea experimentara o tal, montando guarda noite adentro –, ele era incomparavelmente melhor do que o – Real Palace...
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Canseira acumulada, nada decerto perturbaria.
Alta madrugada. Ainda às voltas com o tantão de carne do almoço Na Brasa. Vem então do corredor, aos berros, o protesto (justificado, convenhamos) da fulana cujo métier distingue as redondezas nas quais me encontro: “Vai ter que pagar o programa! ‘Tá pensando qu’eu vou (...) de graça!? O c...!, o c...!”
Mas, na Avenida dos Farrapos, 45, a única revolução da noite foi mesmo a intestina. Já o cliente... Bem, esse deve ter pago.