Os sinos
Não há o que esperar, nem ao menos o despertar dos sinos.
Apesar da festa das asas em torno da igreja. Parece uma celebração, um ritual de vida, alguma coisa que só a natureza explica.
Eles vão e vem num trajeto que vai das árvores ao adro, das árvores às torres, das árvores aos vitrais... e são tantos que podia jurar que a levariam pelos bicos céu afora, fosse ela leve, feita de açúcar ou nuvem, mas é feita de pedra, feita de brita, bem fincada na terra... podia jurar que a vi levitar.
Porém nada acontece além da cena dos pássaros bicando, de quando em quando, a face da igreja. O que eles não sabem é da sua face, nem das suas fases de olhar prá igreja com os pássaros em volta se alimentando dela e construindo seus ninhos.
Se pudesse faria um ninho no alto da torre... se soubesse. Mas não pode porque suas mãos se ocupam em tecer os fios dos seus vestidos, apenas seus olhos sabem bordar os ninhos, seus olhos de beijar flores, de voar alto por sobre a cidade deserta que mais parece um cenário vazio onde personagens descansam à espera do terceiro sino, terceiro chamado, o abrir das cortinas.
Quase amanhece em torno da igreja. Podia jurar que ouvi os sinos.
Podia jurar que do alto da torre alguém acenava sorrindo...