Mau Instinto

Os irmãos Jorge e Juvenal eram inseparáveis nas duras brincadeiras. Em suas molecagens de infância, adoravam jogar bola nos campinhos de várzea da redondeza, onde tinham o indesejado hábito e se divertirem quando um adversário, era, por eles, duramente atingido na “canela” e caía no chão se contorcendo.

─ Viu só, Jorge, como é que se quebra um? ─ dizia Juvenal cheio de orgulho da malvadeza aplicada.

─ Deixa isso comigo, mano! Eu também quero arrebentar com o próximo que tentar me driblar.

─ É isso mesmo cara ─ dizia Juvenal, gargalhando ─, vamos botar pra quebrar! Hoje ninguém escapa da gente; vamos arrebentar com eles; quero ver todos de muleta.

O jogo acabava com muito dos adversários mancando, mas, certo dia a coisa ficou séria demais para ser simples brincadeira: um adversário foi duramente atingido e quebrou uma perna, e ao sair carregado por um amigo, teve a infeliz sorte de falar alto e em bom som que, mais cedo ou mais tarde, aquele quadro mudaria, pois ele mesmo, o Josafá – que também era temido por todos ─, iria à revanche sem pena e sem dó, e que daria fim a um dos dois irmãos.

A conversa se espalhou fulminante, e chegou aos ouvidos dos dois irmãos.

Na verdade, quase que por unanimidade, os adversários dos dois morriam de medo deles, pois seus ímpetos de crueldade eram de elementos rudes, indiferentes e até desumanos. E foi nesse clímax de grande expectativa que armaram uma cilada e, por fim, a vingança: no meio de um jogo, cinco adversários do Juvenal cercaram-no e aplicaram-lhe os dribles mais violentos, no que lhe resultou na fratura de um dos dedos do pé direito. Juvenal não se deu por vencido e, quando são, tramou com o irmão de dar o troco ao Josafá: ficaram escondidos nas proximidades de um poço que havia próximo ao campinho, e quando o Josafá se aproximou agarraram-no, quebraram-lhe os dentes e os dedos dos pés e das mãos e o atiraram poço a dentro. O menino morreu sem que ninguém soubesse da realidade e somente na fase adulta é que o Jorge, arrependido de seus feitos, delatou, chorando, o seu próprio irmão, mas este já havia falecido na prisão em cumprimento de pena por outros delitos.

Jorge, também, por várias vezes foi preso, acusado de arruaças e de outras delinqüências e só depois de ser um sexagenário é que adquiriu a importância de viver em sociedade, converteu-se ao Evangelho e se tornou um pai de família comum.

Só lhes faltam o Céu.

─ Coisas da vida, não?

José Pedreira da Cruz
Enviado por José Pedreira da Cruz em 19/03/2006
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