ZÉ DO BECO & CIA.
ZÉ DO BECO & CIA.
Naquele tempo, o nome era mesmo “pinguço”. Não havia paliativo e nem era doença, não existia a figura do “alcoólatra”, muito menos a sigla AA (Alcoólicos Anônimos). O termo era “pinguço” e, normalmente, pertencia à “Classe Ralé” (como diziam pejorativamente)! Sempre sujos, mal vestidos.
Alguns até babavam. Como crianças. Jovens, conhecíamos quase todo o “clube dos pinguços”, cada qual com seu apelido. Por exemplo : “Urubu”, “Zé do Beco”, “Mortalha”, “Peru”
Defendiam uns trocadinhos fazendo os piores biscates. Era só chamá-los pela alcunha própria e viravam uma fera: sai de baixo que lá vem ele, correndo, caindo, esbarrando como bicho doido!
O por quê dos apelidos até hoje não sei. Só mesmo o pessoal mais antigo. No resto, a maioria era inofensiva. Não havia pinguço “briguento”, quebrador de coisas ou algozes de mulheres. Viravam o dia e a noite, mês e ano inteiros, naquela situação. Eram autênticos profissionais do “pinga-pinga”! Hoje, já não são pinguços. Nem discriminados. São doentes (a doença do alcoolismo) e nem têm apelidos. Graças ao bom Deus, existe uma fraternidade respeitada. Participam ativamente da comunidade quando recuperados, reparando danos.
Mas o alcoolismo encontra-se em acelerada fase de expansão. Jovens e até crianças cedo se entregam ao álcool, sem falar em outras drogas mais comuns também. O alcoólatra de hoje, em plena atividade, chega a ser um perigo: na rua, dirigindo um veículo, em casa, nos bares e restaurantes, não faltam motivos para segurar o gargalo ou o copo. Os ânimos, a irresponsabilidade e o mal¬ humor do alcoólatra são mais acirrados do que os dos pinguços de ontem. A recuperação, por meio da “fraternidade”, é um trabalho de esforço magnifico. Quando recuperados, um papo com eles é ótimo e contam cada caso de arrepiar e fazer rir sem parar. Tenho um conhecido que só bebia pinga e “cachaça da cabeça”! Fui saber: “Pinga da cabeça?”
“Sim, é aquela que sai primeiro do alambique. É tomar e levar bordoada, é fortíssima, mas desce tranqüila goela abaixo”, concluiu ele. Um outro comentou: “Pois é, eu bebia aqui perto somente de Segunda a Sexta-feira”. Pensei: “No sábado e no Domingo ele mastiga calmamente uma ‘ressaca’ brava, recompõe-se para a próxima semana”. Mas não, fui apressado. No fim de semana ele ia para a quitanda de verduras esvaziar umas garrafas!