Eu encontrei o Jorge!
Estava começando a chover. Estava começando a ficar frio. E estava começando a me dar muita fome!! E eu queria ir embora! Já tinha adorado tudo que tinha para adorar por lá (no estádio do meu time). E agora estava na hora de ir para casa adorar o meu bolo de chocolate e meu café do Mercado Público!
Mas eu me encostei no murinho. Que fica ao lado da churrasqueira e bem embaixo de um enorme eucalipto. Distraidamente notei que um pequeno montinho havia se mexido! Sempre quando estou sozinha esperando alguém e principalmente quando estou atrás dos meus óculos de sol aproveito para dar olhadinhas em tudo! Nas pessoas, nos carros, nas árvores etc.
Foi então que eu vi que aquele pequeno montinho. Era um filhote de passarinho! Coitadinho!! Tinham moscas perturbando sua já complicada vida. Comecei a abanar de longe com meu casaco o coitado (a fim de espantar as moscas). Era uma tarefa um pouco complicada, já que havia entre nós um muro!
Meu marido voltou com seu cafezinho (recém adquirido no bar do estádio) e olhou desconfiado para mim, já perguntando: “O que foi que tu fez agora?”
“Tem um passarinho aqui, olha coitadinho caiu do ninho, vamos pegar e levar para a casa!” Ele (o marido) revirou os olhos e acenou a cabeça lentamente.
Ainda tentou argumentar levar como? Ele é muito pequeno, não vai sobreviver? Está atrás do muro! Como vamos levar?
Pensa que adiantou? Que nada eu já tinha achado um potinho vazio (de paçoquinha) e já estava dizendo para ele ir ao carro buscar uma sacolinha para pegar o bichinho!
E foi o que ele fez, pegou o Jorge com uma toalhinha e colocou no potinho.
Como não tinha água no carro eu tentei dar uma H2O para o Jorge. Ele não gostou muito, confesso. Mas em menos de meia hora estávamos em casa.
Enquanto meu marido pegava uma antiga gaiola na garagem eu fui na horta e cacei duas gordas minhocas. Só que meu marido é quem teve que cortar elas e tentar enfiar goela abaixo no bico do Jorge. Tenho horror de minhocas!!
O Jorge comeu!! Ficou sacudindo o cabeção e abrindo bem o bico para receber a minhoca. Pela manhã do outro dia (e notem era fim de semana) eu acordei as sete horas para dar o desjejum do Jorge. Camisola, chinelo de pelo e enxada na mão. Mais uma minhocona arrancada do calor da terra!
Bem, eu já sabia que de jeito nenhum meu excelentíssimo esposo iria levantar para dar a minhoca para o Jorge! Então eu peguei uma faca e de olhos meio fechados parti ela ao meio, depois com uma pinça peguei o pedaço de minhoca e acenei para o Jorge.
Pensa que ele quis? Quis nada, abriu o olho, e virou a cabeça desdenhando dos meus esforços. Pensei comigo, acho que ele vai morrer afinal passarinho não acorda bem cedo? Quando eu acordo os ouço cantando na minha janela! Será que eles não acordam com fome como eu? “Sim! Deve ser isto! Daqui a pouco ele vai estar com fome!” Guardei a minhoca e tratei de fazer meu café (não sou ninguém antes de uma boa porção de cafeína).
O fato é que logo tivemos que sair e quando voltamos ao meio dia o Jorge só quis água. Nada de minhoca. Olhei desconsolada para meu marido e ele disse: “Eu te avisei Simone ele não vai sobreviver”. Ainda fiquei ali sacudindo a gaiola e balançando a minhoca... Mas não teve jeito o Jorge nem quis saber de comer. Toquei nele e vi que estava com frio. Coloquei perto da lâmpada e enchi de jornal por cima do seu corpinho.
Alguns disseram que era filhote de sabiá, mas meu sogro falou que era filhote de quero-quero! Imagina! Um filhote de quero-quero! Que legal!!
É mas não deu... No final da tarde eu enterrei o Jorge. Confesso que um tanto aliviada. Já estava com medo daquela responsabilidade toda. Alimentar, esquentar, cuidar e depois a difícil decisão de soltar ele ou prender em uma gaiola enorme? Não sei se eu ia dar conta de tudo aquilo!
Mas fiquei triste também, eu queria tanto que o Jorge crescesse forte e bonito! Mas não deu... Até o Bartolomeu ( meu gato) teve que dormir na rua por causa do Jorge! Eu me esforcei tanto...