Terça Calada ( Crônicas Dispersas)

Nome de Cidade, Nome de Rio

O trem me leva de um canto ao outro. Vou de Santo Amaro a Barra Funda, troco trens, mudo universos, cruzo com pessoas que não me enxergam, outras que enxergam o meu bolso, mendigos calados e mendigos pedintes.

Vou do Sul ao Norte, subo a Casa Verde, converso com alguém sobre emprego. Ele poderia ser eu, eu poderia ser ele. Falamos sobre liderança, sobre desenvolver pessoas, ele me conta que ouviu esse frase em algum lugar

" O que você é grita tanto, que não consigo ouvir o que você diz"

Ou algo assim, ele tem nome de cidade americana, eu, nome de rio. Sinto, que mesmo embora nunca mais venhamos a nos ver, conheci um amigo.

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História dos Subúrbios

O ônibus me leva pela Rio Branco e Machado de Assis me conduz pelo mundo de Bentinho e Capitu.

- Você está lendo Dom Casmurro? - alguém pergunta - É para o vestibular?

- Não, estou lendo por lazer mesmo! - respondo, a pessoa olha estranho. No Brasil, não lemos os clássicos por prazer, que pena!

Chego no capítulo final, aos pés do Paissandú:

" (...) que a minha primeira amiga e meu melhor amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me...A terra lhes seja leve! (...)"

Ando pelas ruas do centro, pensando no "Bruxo" e lembrando da narração do livro, da maneira como ele-autor engana os leitores com seu eu-personagem, e mesmo assim, adoramos e torcemos por Bentinho.

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Filhos da Terra¹

Passo pela Praça da Sé e um cartaz num prédio da Caixa Econômica acaba atraindo a minha atenção. É uma exposição chamada "Filhos da Terra", feita por grupo artístico formado por membros das comunidades carentes de Petrópolis.

Leio no mural:

" Eles vieram de comunidades simples e pobres de Petrópolis. Aos poucos, aprenderam e desenvolveram uma técnica ecológica que trabalha apenas ocm o que a natureza disponibiliza generosamente: areias coloridas, pétalas de folhas caídas, cascas conchinhas, fiapos de penas de pássaros, bambus, papel reciclado... e muita imaginação! Os temas são também variados - Lances da cultura popular, várias com roupas expostas ao vento, favelas, mulheres lavadeiras, colchas de retalhos e crianças brincando. Os cartões também se transformam em quadros, cujas molduras, de bambus, são confeccionadas por eles. Dos bambus vêm também as luminárias únicas, os abajures com cúpulas trabalhadas, as fontes e os mensageiros do vento."

A exposição eco-artesanal é uma festa para os olhos, e me conduz pelo mundo da imaginação e da espiritualidade. Sou arremessado para um mundo, onde objetos simples que desprezamos ao vermos pelo chão, viram matéria prima para as mais lindas obras de arte.

Tudo é muito belo, mas um quadro em especial chama a minha atenção:

VIDA E IMAGINAÇÃO

O mágico encontro literário

De Fabiano Bittencourt

Onde personagens saem de um livro aberto. É isso que vi em Machado, é isso que ví no amigo da escola, que me ofereceu o trabalho. Arte que transborda, mágica que transparece. Tudo é mesmo uma coisa só!

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A Máscara Neutra

No mesmo lugar, também sou atraído por outra exposição chamada "A Máscara Teatral: Na arte do Santori" , onde o mundo das máscaras e do teatro, me convida a inspiração e ao deleite visual.

Cada máscara é um show de criatividade e mágica. Vejo a máscara do Arlequim, que transporta o visitante as máscaras medievais e ao teatro grego:

" O arlequim é uma personagem da Commedia dell'Arte, cuja função no início se restringia a divertir o público durante os intervalos dos espetáculos. Sua importância foi gradativamente afirmando-se e o seu traje, feito de retalhos multicoloridos geralmente em forma de losango, mais ainda o destacava em cena.

Existe contudo, ainda, uma versão igualmente famosa, com origem napolitana no Polichinelo.

O Arlequim foi um personagem disseminado no Brasil principalmente através dos blocos carnavalescos de rua. O carnaval nordestino e baiano soube transferir o fenótipo típico do bobo-da-corte para o artista brasileiro, malandro brincalhão cujas peripécias e aventuras sempre acabam prejudicando as pessoas que se relacionam com ele e, vez ou outra, resultam em lições de moral. No Carnaval, o arlequim procura pelas ruas encontrar seu par, Colombina, e, assim como o Saci, adora fumar tabaco e atrapalhar a festa dos ambiciosos, aventureiros e homens de boa educação."

Contudo, a máscara neutra que mais me chama a atenção, pois não é um personagem, é um rosto sem emoção. Sereno e meditativo, num eterno estado que se apoia na calma e na percepção.

" É a máscara de base, que pilotará depois as diferenças das outras máscaras. É com ela que se saberá como usar todas as outras"

Jacques Lecoq³

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Diwali

Chego em casa e a Camilla, diretamente do Reino Voador, lembra que hoje é dia de Krishna. É Diwali, o natal hindu. Conhecida também como o festival das luzes. Celebrado uma vez ao ano, as pessoas estreiam roupas novas, dividem doces e estouram rojões e fogos de artifício. Esse festival celebra o assassinato do malvado Narakasura, por Krishna, o avatar Hindu, o que converte o Diwali num evento religioso que simboliza a destruição das forças do mal.

"O Diwali é um grande feriado indiano, e um importante festival no Hinduísmo, Sikhismo, o budismo, e Jainismo. Muitas lendas são associados com Diwali. Hoje em dia é comemorado pelos hindus, sikhs e Jains em todo o mundo como o "Festival das Luzes", onde as luzes ou lâmpadas significar vitória do mal sobre o bem dentro de cada ser humano."(4)

No ritmo do Diwali, desejo a vocês, caros leitores, muitas luzes em seus caminhos!!!

Hare, hare OM!!!

Notas do autor:

¹ A exposição "Filhos da Terra" segue até o dia 23 de Novembro de 2008, no Caixa Cultural, localizado na Praça da Sé. Entrada franca.

² A exposição "A Máscara Teatral: Na arte do Santori" vai até a mesma data.

³ Descubra mais sobre Jacques Lecoq em: http://www.cialuislouis.com.br/tf-lecoq.htm

(4)Informação tirada do site: http://en.wikipedia.org/wiki/Diwali