A Música Sufocada

As mais belas formas de expressão humanas são, às vezes, ameaçadas pelo descaso coletivo. Quanto mais há espaço à arte em sua diversidade, mais rica é a cultura de um povo. O nosso, infelizmente, não reflete a respeito, uma vez que vê, inerte, as manifestações artísticas sucumbirem em nome do que possa ser mais lucrativo, de empecilhos burocráticos ou do mero desprezo. A Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) e seu Coro Sinfônico sofrem as conseqüências da desvalorização cultural em nosso Estado.

Desde junho, a Orquestra, que foi uma das primeiras do país, está sem sede própria. O projeto de construção do novo teatro aguarda os trâmites burocráticos para o início de sua concretização. Enquanto isso, Orquestra e Coro Sinfônico ensaiam em locais provisórios, às vezes gentilmente cedidos – como as igrejas da Reconciliação e Martin Luther. No entanto, há obstáculos acústicos que dificultam o trabalho, além da fragilidade da falta de residência.

O Coro Sinfônico é formado por músicos amadores, que cantam voluntariamente. Sou uma de suas integrantes. Nossos ensaios parciais, por exemplo, acontecem no Conservatório Pablo Komlós, cujo espaço é pequeno. Apesar das adversidades, empenhamo-nos em manter nosso grupo unido e fazer o melhor, pelo amor e reverência à música e ao que ela proporciona. Cada cantor sacrifica docemente algo de si para que as pessoas possam ouvir hoje o que os homens compuseram através dos séculos.

Ter essa dedicação reconhecida é tudo o que um músico espera da população, independentemente de gosto musical. Terça-feira (hoje) realizar-se-á o primeiro concerto com o Coro após o período turbulento. Decepciona-me perceber que as injustiças não causam repulsa, mas uma resignação que serve à estagnação e à perda de elementos importantes ao mundo. Por isso cantarei, pela dignidade da Ospa e sua equipe, contra as injustiças não combatidas e a incompreensão, e porque é preciso não sucumbir às agruras; para acordar a existência alheia e a minha mesma. Porque é o que me cabe, por ora. Assim como os porto-alegrenses, os gaúchos, podem assistir, dizendo no silêncio que o Rio Grande do Sul não permitirá que parte significativa de sua arte se extinga e que sua música ecoará através dos tempos.

O quê: Concerto Ospa e Coro Sinfônico

Quando: 28/10, às 20h30

Onde: Capela do Colégio Anchieta

Entrada franca.

Clarissa de Baumont
Enviado por Clarissa de Baumont em 28/10/2008
Código do texto: T1252424
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