Teimosa
Lembro-me, traumatizado, das bolhas de gás carbônico, componentes do negro fluído capitalista quando, sorvidas em um gole só, penetraram, sem cerimônia, em minhas fossas nasais. A ironia do momento, o calor que subia por minha espinha e a ridícula situação faziam-me agonia e prazer. Porque é que todas as vezes em que não é bem vinda, ela insiste em aparecer? Não sei se acontece apenas comigo mas, geralmente, fica bem acompanhada por reuniões mesquinhas de família, amigos que não perdoam uma, ou lugares públicos onde obstruir o silêncio seria como traçar, sem pudores, com farofa e coliformes, uma vaca grelhada, em pleno centro de Dubai. Certa vez aconteceu na aula. Havia aprendido o inovador método de obstrução das narinas com uma mão, e vedação da boca com a outra. Não muito sutil, é verdade, mas na atual situação em que me encontrava, essa era a opção mais sensata. Esqueceram apenas de me avisar que, a perfeição dá-se pela prática. Fracasso!!! Quando me dei conta, trinta pares de olhos fintavam-me com ar de deboche, e um em especial, de reprovação, por ter interrompido raciocínio que levara anos de estudos para ser compartilhado. - Vocês são todos ET’s? – pensei. De fato, acho que sim!!!Fico a imaginar se sou exagerado, observador demais, ou se vivo em um mundo realmente cômico. Sou um ímã. Basta olhar para o lado, e lá está um motivo para rir, gargalhar, perder o fôlego. O pior, me pegam sempre desprevenido. Metrô, supermercado, carro ao lado, varanda. E sozinho, não tenho chances de disfarçar.Já ouvi histórias de ataques de riso em funerais, julgamentos, ou frente à autoridades em ocasiões solenes... Agora, sozinho? Não que me lembre!Talvez porque não exista outro fato registrado em cartório, ou, a mais sensata das explicações: Ninguém admite!A grande verdade é que todos já passaram por isso. Quem nunca se pegou ebulindo em risadas internas, ridicularizando a si mesmos, mais do que o próprio “micado”, que atire a primeira pedra!!!Eu sei, muitas vezes, o deboche não cabe à situação. Machucados ou traumas podem ocorrer, mas, que é sempre muito engraçado, é! Ainda, o pós-cômico pode ser mais engraçado que o cômico em si. Expressões faciais desconfigurantes ou as linguagens corporais que sucedem uma situação hilária, fazem-nos sufocar mais do que o tombo, a fala, o mico. A meia calça furada, estigma do ”capote”. Repreensões a objetos inanimados, como se fossem crianças traquinas de sacanagem para cima de nós, faces ruborizadas, gritos escandalosos e palavrões. Esses sim, quanto mais cabeludos, melhor!Acho que todos pensam desta forma. Mais engraçado do que rir de si mesmos, sem dúvida, é rir dos outros. Porém, como dizia minha avó Rosa, em eufemismo, que permitam a censura livre desta escrita, pimenta nos olhos dos outros, é refresco!!!
Danilo M. Benites
14 de agosto de 2008