Cegos aos Percalsos do Mundo
Estranho seria, e é, se enxergando, cegássemos. Não víssemos as barbáries do homem, suas mal feitorias, sua mesquinhez. Toda essa forma desarmônica de poder, essa distribuição ineficaz das riquezas, de sonhos, da dor. Tolos seríamos, e somos, pois nós, ignorantes, pensadores de toda esperteza, do enganar, nos enganamos. Inúteis! Nos roubam e nos matam, nos assaltam. Assassinam nossos filhos, assassinarão nossos netos, gerações. E, entre todos que nos fazem o mal, o maior mal que executam, para nós, para os que amamos e aos que não conhecemos, sabem quem faz? Nós. Pois nada fizemos. Somos cavalos de charrete, com viseira, com cabresto, olhando apenas o que nos interessa, o que nos mostram. Aí somos ordenados, encilhados e surrados de relho pelo corpo. Imbecis, nós. Ignorantes cegos que vêem.