Discurso em curso

Aproximou-se da escrivaninha,

Que não tinha e sonhou com um texto,

Denso, prático e recheado de belas frases.

Só encontrou chavões.

Ligou a TV.

Programa político.

A inspiração veio às turras,preencheu duas longas laudas.

Ligou o computador imaginário,

Dedilhou o teclado,compôs um poema.

A crônica ficou para o dia seguinte.

Ligou o motor do carro,

Só o do imaginário, porque carro não tinha.

Chamou a vizinha com a buzina irritante.

O telefone celular, de brinquedo, tocou.

Era mentira sua vida suada, calejada no dia -a - dia.

Fazer o quê?

Agora a crônica criara vida própria. Existia.

Fechou o jornal e foi pôr o lixo na rua.

Poeira na avenida.

Gardênia SP 18/3/2006

Gardênia
Enviado por Gardênia em 18/03/2006
Reeditado em 21/03/2021
Código do texto: T124927
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