Discurso em curso
Aproximou-se da escrivaninha,
Que não tinha e sonhou com um texto,
Denso, prático e recheado de belas frases.
Só encontrou chavões.
Ligou a TV.
Programa político.
A inspiração veio às turras,preencheu duas longas laudas.
Ligou o computador imaginário,
Dedilhou o teclado,compôs um poema.
A crônica ficou para o dia seguinte.
Ligou o motor do carro,
Só o do imaginário, porque carro não tinha.
Chamou a vizinha com a buzina irritante.
O telefone celular, de brinquedo, tocou.
Era mentira sua vida suada, calejada no dia -a - dia.
Fazer o quê?
Agora a crônica criara vida própria. Existia.
Fechou o jornal e foi pôr o lixo na rua.
Poeira na avenida.
Gardênia SP 18/3/2006