No Terceiro Degrau.
Fragmento
Para Helena, meu amor, minha flor, minha menina.
Me apaixonei por ela nos degraus da escada. Falando coisas sem sentido, coisas que não interessavam a ninguém, mas falar era uma maneira de prendê-la ali, de continuar a ver seus olhinhos pequenos e doces, a suavidade de seu sorriso espontâneo, sua voz serena, também me contando sobre si coisas que eu não prestava muita atenção, hipnotizado por sua presença feminina e magnética, a única coisa que fazia sentido era continuarmos juntos sentados naqueles degraus.
A cena ainda está vívida, ainda ouço sua voz, ainda sinto seu perfume, tudo em uma imensa confluência que me remete àquele momento único, o primeiro encontro ideal, sentados nas escadas da biblioteca. Nunca ouvi falar sobre um amor nascido em tais circunstâncias, mas não poderia ter sido de outra forma, a três degraus da porta, a alguns metros da rua, onde os carros passavam retificando que nada poderia ser mais importante do que nossas mãos se encontrando, nossos dedos se enlaçando, nossos rostos cada vez mais perto, e uma sensação de que ainda faltava alguma coisa, impressão de que a cena estava incompleta.
O seu perfume entrava incontestável, não somente por minhas narinas, mas por cada um de meus poros, numa experiência maravilhosa e excitante, um misto de ternura e devaneio, culminando em uma volúpia sem explicação ou precedentes. De repente aquela morena de voz doce e sorriso afável era o meu mundo, o único lugar que eu deseja estar era ali, segurando suas mãos, acariciando seus dedos, sentado naquele degrau de pedra, ouvindo sua respiração baixinha, seus olhinhos querendo se fechar de sono, vontade de cantar uma canção de ninar e deixa-la adormecer nos meus braços, acariciar seus cabelos levemente desgrenhados, morder suavemente seus tenros lábios delicadamente cobertos por um batom que exalava um perfume tão doce quanto seu próprio sorriso.
O amor nasce nas mais diversas e inusitadas situações, acontece, explode dentro do peito como a erupção de um vulcão, está ali adormecido e de repente é lava jorrando incontrolável, fazendo o coração bater mais rápido, as palmas das mãos suarem, todos os sentidos em comum acordo querem uma única coisa, querem que o tempo se congele, que os ponteiros do relógio fiquem estáticos, que a efemeridade da vida descontamine a existência e que o momento de idílio seja eterno, era isso que eu sentia, desejava, sentado naquele degrau ouvindo a voz dela a enumerar o nome dos ossos da minha mão.
Ao mesmo tempo em que eu queria dizer tudo isso a ela, falar de como estava sendo mágico aquele momento, havia o medo de que as palavras ridicularizassem a si mesmas então o momento seria profanado, a ânsia de te-la ali poderia conspurcar-se e desbotar a magia do momento. Eu não sabia, no entanto, o que se passava pela cabeça dela, não poderia supor que pensamentos povoavam a mente de uma mulher tão linda, quando sentada nos degraus de uma escada com um sujeito que não sabia bem o que dizer ou onde colocar a mãos, desajeitado, desajustado, enfim, meio pateta.
Seu nome: Helena. Mais bela que a própria rainha grega, no entanto essa uma princesa de pele morena, de olhos pequenos, de sorriso púrpura, de postura cativante, de sentimentos a flor da pele. Daí surge inexplicavelmente, inapelavelmente o amor, impossível não se apaixonar por tão singular criatura, tão única e tão especial...