A ARANHA
Já passava da meia-noite. Naquela casa estranha, todos dormindo. Inclusive eu... Até aquele momento. Acordara com vontade de fazer xixi. Coisa mais normal do mundo. Levantei-me.
Coloquei meu roupão. E me dirigi ao recinto onde pessoas civilizadas costumam depositar suas necessidades fisiológicas: o banheiro. Na casa em que eu estava, não havia banheiro no quarto.
Atravessei aquela sala enorme, no escuro, morrendo de medo de que houvesse algum inseto me observando. Mas, apesar de preocupada, minha vontade de esvaziar a bexiga era maior do que qualquer medo (pelo menos eu pensava assim).
Ainda sonolenta, acendi a luz daquele banheiro abafado. Mal tinha os olhos abertos... Porém, as pálpebras semicerradas foram o suficiente para que eu enxergasse, logo acima do vaso sanitário, uma grande, enorme, abissal ... aranha (daquelas caranguejeiras, peludas, asquerosas e horripilantes). Engoli a seco. O suor gelado tomou conta do meu corpo inteiro. Corri de volta para o quarto. Deitei-me na cama, com a esperança de que a vontade de fazer xixi tivesse passado com o susto. Mas não passou. Pior, aumentava a cada segundo.
Meu Deus! Onde iria depositar meu desespero? Deveria voltar ao recinto e fingir que aquele monstro não estava ali? Deveria gritar para todos da casa acordarem? (não, naquela casa estranha jamais faria isso!). Poderia dormir e fingir que o que eu estava sentindo iria passar?
Conseguiria segurar o xixi até o dia seguinte? Avisaria a dona da casa que um alienígena estava morando em seu banheiro?
Minha cabeça entrou em parafuso.
Levantei-me da cama e comecei a andar em círculos pelo quarto. A barriga doendo. Parecia que eu iria explodir. Suava frio, quente, frio de novo... Pensei em ir ao outro banheiro (havia um perto da cozinha)... Mas, e se a aranha tivesse me seguido? E se ela estivesse me esperando do lado de fora da porta do quarto? E se houvesse outras aranhas pela casa? O único lugar seguro, naquele momento era o quarto onde eu estava... Mas, até quando? Se a aranha entrara no banheiro, poderia muito bem entrar ali, naquele quarto...
Tranquei a porta à chave. Vedei todos os buraquinhos (da fechadura, das janelas...) com algodões (que eu trazia sempre na bolsa e usava para tirar maquiagem ou limpar a pele macia de meu bebê...)
Lembrei-me do bebê... Coisa mais linda, ali ao meu lado, no berço. Aquela coisa fofa dormia tranquilamente...
Como poderia dormir assim? Eu ali, sofrendo, com dores abdominais, mentais, corporais, existenciais... prestes a fazer xixi nas calças... E ele (o bebê), tranquilo, sereno...
_ Deve ser porque está usando fraldas... - falei comigo mesma...
Hum... Eu havia dito "fraldas"?? - uma luz se acendeu.
Não havia outra saída. Abri o guarda-roupa, peguei a maleta do fofinho... Procurei por todas as fraldas ( que eu mesma havia trazido ) , juntei tudo, fiz um "montinho" no chão e...
Bem.. o resto você sabe...
Enfim...
Depois de aliviada, deitei-me na cama. Lembrei-me da aranha que deveria estar esperando para me atacar.
_ Não foi desta vez - pensei.
E dormi, serena, tranquila como um bebê...
(Adriana Luz)
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