HOJE ME FIZ SAUDADE
Hoje, as lembranças de um passado – ainda recente – me fizeram festa. Amanheci com vontade de relembrar meu início na educação. A vocação em repassar conhecimentos se deu a partir da nomeação, de ser chamado para assinar o termo de compromisso, lá no antigo NURE, núcleo que funcionava num prédio ao lado do que é hoje a Estação das Artes.
A diretora do núcleo, na época, não acreditava que um bancário fosse assumir um cargo onde ele ia ganhar um 1/5 do que ganhava na instituição financeira. Houve um princípio de embate onde as partes interessadas adotaram posições antagônicas quanto à nomeação: ela, a diretora, dizia que não me nomearia, pois tinha certeza que eu não assumiria, com responsabilidade, às funções destinadas no contrato, já que, como bancário, educação seria apenas um “bico”.
Por outro lado eu não aceitava esse argumento, e mostrava, através da publicação do diário oficial, que eu não precisava do aval dela para assumir o cargo: havia feito um concurso público, passado e tinha sido chamado, portanto, nada podia ser impedimento – a não ser no exame de saúde se desse algum contratempo – para eu ser efetivado como professor público estadual, para ministrar a disciplina de História.
Vencida pelos argumentos, a “chefa” assinou a nomeação, mandando-me, no entanto, para o interior, para a cidade de Upanema. Dos males – e desforra – o menor.
A preparação para esse deslocamento diário me custou, inicialmente, muita preocupação e temor. Para começar, ajustar horário na instituição onde trabalhava, pois precisava sair mais cedo, por volta das 18h00min para poder me deslocar e chegar a tempo para o início da primeira aula.
Em seguida, adquirir um transporte que pudesse ser, ao mesmo tempo, econômico e ágil, para poder driblar as pedras, buracos e areia pesada da estrada de cinqüenta quilômetros.
Uma aventura, de início, muito perigosa.
Porém, como havia dado minha palavra que estava entrando para a educação, não para fazer “bico”, mas para transmitir aquilo que me fora repassado e, acrescentar em cima disso, a experiência de vida, resolvi esses pequenos problemas rapidamente.
Confesso que as duas primeiras semanas foram um desafio a força de vontade e, principalmente, para ignorar, por completo, os perigos que aquela estrada – todas as noites – me proporcionava: a escuridão só iluminada pelos faróis da motocicleta; o deserto de casas e, logicamente, de pessoas ao longo do percurso; as várias ocasiões que andava pertinho de cair – o que seria, dependendo do acidente, uma péssima situação, pois o socorro, provavelmente, não aconteceria –, tudo isso era colocado na balança, todas as vezes que eu me deitava para descansar.
Porém, quando acordava no dia seguinte, minha mente já estava planejando as atividades para as séries que teria aula naquela noite.
E assim o tempo foi passando, o caminho foi sendo mapeado por completo – ao ponto de saber até onde existiam pedras soltas, um número maior de buracos, onde a areia era mais fofa, qual lado da estrada era melhor para pilotar –, e as preocupações iniciais – onde respirar fundo no começo da estrada só normalizava os batimentos no final da caminhada –, foram dando lugar as reflexões para admirar a beleza da natureza em noites enluaradas, onde o silêncio apenas se fazia interrompido pelo roncar do motor da motocicleta; em perceber no contato com a brisa, o suave perfume das flores das árvores – que guiavam – ao longo do caminho, os meus passos.
Entretanto, a maior força de vontade para prosseguir não me era dada – nem pela minha família, nem mesmo pela minha palavra empenhada no momento que assinei o termo –, mas pelos jovens adolescentes da Escola Estadual de 1º e 2º graus José Calazans Freire, que todo por do sol esperavam, ansiosamente, a minha chegada. Para eles – todas as noites – valia qualquer tipo de sacrifício.
Permaneci – indo e vindo, todas as noites – por seis meses. Sempre saía de casa às 18h00min e retornava ao mesmo ponto às 24h00min.
Hoje, depois de quase duas décadas, ainda encontro, pelas ruas da cidade – de vez em quando – pais de famílias que me cumprimenta. Quando eu me desculpo por não estar reconhecendo-os, eles sempre dizem: “- Professor, não se lembra de mim? Fui seu aluno, quando jovem, em Upanema...”
Obs. Imagem da internet (Escola, na cidade de Upanema/Rn, onde eu comecei a minha docência)
Hoje, as lembranças de um passado – ainda recente – me fizeram festa. Amanheci com vontade de relembrar meu início na educação. A vocação em repassar conhecimentos se deu a partir da nomeação, de ser chamado para assinar o termo de compromisso, lá no antigo NURE, núcleo que funcionava num prédio ao lado do que é hoje a Estação das Artes.
A diretora do núcleo, na época, não acreditava que um bancário fosse assumir um cargo onde ele ia ganhar um 1/5 do que ganhava na instituição financeira. Houve um princípio de embate onde as partes interessadas adotaram posições antagônicas quanto à nomeação: ela, a diretora, dizia que não me nomearia, pois tinha certeza que eu não assumiria, com responsabilidade, às funções destinadas no contrato, já que, como bancário, educação seria apenas um “bico”.
Por outro lado eu não aceitava esse argumento, e mostrava, através da publicação do diário oficial, que eu não precisava do aval dela para assumir o cargo: havia feito um concurso público, passado e tinha sido chamado, portanto, nada podia ser impedimento – a não ser no exame de saúde se desse algum contratempo – para eu ser efetivado como professor público estadual, para ministrar a disciplina de História.
Vencida pelos argumentos, a “chefa” assinou a nomeação, mandando-me, no entanto, para o interior, para a cidade de Upanema. Dos males – e desforra – o menor.
A preparação para esse deslocamento diário me custou, inicialmente, muita preocupação e temor. Para começar, ajustar horário na instituição onde trabalhava, pois precisava sair mais cedo, por volta das 18h00min para poder me deslocar e chegar a tempo para o início da primeira aula.
Em seguida, adquirir um transporte que pudesse ser, ao mesmo tempo, econômico e ágil, para poder driblar as pedras, buracos e areia pesada da estrada de cinqüenta quilômetros.
Uma aventura, de início, muito perigosa.
Porém, como havia dado minha palavra que estava entrando para a educação, não para fazer “bico”, mas para transmitir aquilo que me fora repassado e, acrescentar em cima disso, a experiência de vida, resolvi esses pequenos problemas rapidamente.
Confesso que as duas primeiras semanas foram um desafio a força de vontade e, principalmente, para ignorar, por completo, os perigos que aquela estrada – todas as noites – me proporcionava: a escuridão só iluminada pelos faróis da motocicleta; o deserto de casas e, logicamente, de pessoas ao longo do percurso; as várias ocasiões que andava pertinho de cair – o que seria, dependendo do acidente, uma péssima situação, pois o socorro, provavelmente, não aconteceria –, tudo isso era colocado na balança, todas as vezes que eu me deitava para descansar.
Porém, quando acordava no dia seguinte, minha mente já estava planejando as atividades para as séries que teria aula naquela noite.
E assim o tempo foi passando, o caminho foi sendo mapeado por completo – ao ponto de saber até onde existiam pedras soltas, um número maior de buracos, onde a areia era mais fofa, qual lado da estrada era melhor para pilotar –, e as preocupações iniciais – onde respirar fundo no começo da estrada só normalizava os batimentos no final da caminhada –, foram dando lugar as reflexões para admirar a beleza da natureza em noites enluaradas, onde o silêncio apenas se fazia interrompido pelo roncar do motor da motocicleta; em perceber no contato com a brisa, o suave perfume das flores das árvores – que guiavam – ao longo do caminho, os meus passos.
Entretanto, a maior força de vontade para prosseguir não me era dada – nem pela minha família, nem mesmo pela minha palavra empenhada no momento que assinei o termo –, mas pelos jovens adolescentes da Escola Estadual de 1º e 2º graus José Calazans Freire, que todo por do sol esperavam, ansiosamente, a minha chegada. Para eles – todas as noites – valia qualquer tipo de sacrifício.
Permaneci – indo e vindo, todas as noites – por seis meses. Sempre saía de casa às 18h00min e retornava ao mesmo ponto às 24h00min.
Hoje, depois de quase duas décadas, ainda encontro, pelas ruas da cidade – de vez em quando – pais de famílias que me cumprimenta. Quando eu me desculpo por não estar reconhecendo-os, eles sempre dizem: “- Professor, não se lembra de mim? Fui seu aluno, quando jovem, em Upanema...”
Obs. Imagem da internet (Escola, na cidade de Upanema/Rn, onde eu comecei a minha docência)