Mão no bolso!
Mão-no-bolso! A bricadeira!
Essa era uma bricadeira entre meninos da minha cidade, considerada muito violenta. Consistia num contrato entre dois moleques onde aquele que flagrasse o outro sem pelo menos uma das mãos no bolso tinha o direito de desferir-lhe um murro nas costas. Podia ser qualquer bolso, desde que de uma roupa que estivéssemos usando. E caso a roupa (calção, camisa...) não tivesse um, valia meter a mão por dentro do calção. A execução era sumaríssima e acompanhada de um grito: "Mão no bolso!". Geralmente quem sofria mais eram os iniciantes na brincadeira, pois os mais experientes estavam sempre com uma mão no bolso, quando não as duas. E ainda assim, quando viam alguém se aproximar, ato reflexo, punham-se em guarda. Os impasses ocorriam justamente quando a pena era aplicada no momento em que o infrator colocava o mão no bolso e instalava-se o conflito: o infrator dizia-se injustiçado e o executante afirmava legalidade no ato. Quando havia um terceiro moleque, amigo dos dois, recoriam a ele para julguar a legítimidade. Caso fosse considerado injusto, o injustiçado tinha o direito de desferir semelhante soco, como forma de reparo. Obviamente a brincadeira era de total desconhecimento de nossos pais pois tamanha brutalidade era incompatível com o padrão de amizade que reinava naqueles idos.
Hoje fico me perguntando: Como não seria melhor o mundo se nossos jovens ainda brincassem de mão-no-bolso e abominassem outras formas de violência...