HOJE FAÇA COMO O SÁTIRO, FUJA DE MIM
Hoje stou pedindo para o mundo parar e eu descer. Hei Chico! O dia pra mim começou que nem aquele da modinha que diz: tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu. A gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu. Sei lá! Sei lá! Mas, se a educação me permitisse eu com certeza, soltaria um palavrão, mas que droga! Que droga! A coisa trava na garganta e eu rebento os dedos chutando as pedras que encontro no meu quintal. Agora me pergunte por quê. Digo não, já que nem eu sei o porquê, só sei que estou zangada. Pode não?
Eu não sou sábia, mas me vejo às vezes soprando com mesma boca o calor e o frio e isso me confunde. Não veja conotação, mas o grego Eurípedes deixou dito que os sábios têm duas línguas, uma para dizer o que pensam e a outra para falar conforme as circunstâncias: quando o querem, têm talento para fazer o preto parecer como branco e o branco como preto, soprando com a mesma boca o calor e o frio e exprimindo com palavras exatamente o contrário do que sentem no peito.
Conheço um apólogo atribuído a Aniano a respeito de soprar com a mesma boca o calor e o frio, eis: No máximo rigor do inverno, um camponês recebeu um sátiro em sua cabana. Ao ver que o camponês soprava os dedos, perguntou-lhe o sátiro: “ Por que faz isso?” – ao que respondeu: “ Para me esquentar com o calor do bafo”. Mas tarde, posta a mesa, vendo o sátiro que o camponês soprava a comida muito quente, perguntou-lhe por que fazia o mesmo com a comida. Ao que respondeu o camponês. “ Para esfriá-la”. Então, o sátiro levantou-se subitamente e lhe disse: “Como?! Pela boca mesma boca, você põe para fora o calor e o frio? Ah! Não quero negócio com essa gente”. E assim dizendo, saiu a correr.
Hoje, faça como o sátiro, saia correndo de mim...