O RELÓGIO E O OVO

Fechei o livro e apanhei o relógio. É um Levis de corda, dourado; me lembro quando meu pai o comprou:

-- Vamos no Felipe, preciso de um relógio de bolso -- ele me disse, mas era como se falasse sozinho.

Entramos na Joalheria Glória, na Ramalho Ortigão. Seu Felipe mostrou vários. Meu pai não gostou de nenhum, até que viu o Levis.

Estou com o Levis na mão. Sinto os dedos do meu pai misturados aos meus, segurando o relógio.

Na gaveta onde o guardo, apanho o ovo de madeira que minha mãe usava, nos anos 40, para cerzir as meias dele e as minhas. Sinto os seus dedos, misturados aos meus, o colocando dentro da meia furada e começando a costurar. Vejo seu sorriso.

Faleceram há 20 anos. O relógio e o ovo me unem a eles.

Elysio Lugarinho Netto
Enviado por Elysio Lugarinho Netto em 25/10/2008
Reeditado em 06/12/2008
Código do texto: T1247116
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