Carta a uma estúpida

Senhora,

Claro que estou surpreso!

Como poderia pensar que me quererias? Sempre, exceto quando eu me forçava a não fazê-lo, observava teu corpo como uma criança que vislumbra a morte do próprio pai, com tristeza, angústia e isolamento.

Sentia-me ajoelhado ao ver-te encostar, por mero acaso, teu braço em mim. Minha boca tinha sabor de sangue ao ver-te os lábios ressecados, pedindo uma gota de saliva. Sentia-me as unhas arrancadas quando te via com outro homem. Espelhava-me nele, pensando ser eu quem te beijava. Nessas horas eu me tinha nojo.

E agora tu me dizes:

— Eu te quero. Era apenas timidez.

Não! Não era timidez. Era sensatez – embora não soubesses, como de costume – e que tu transformaste em grandiosa estupidez. Como me queres? Por que me queres? Por que não ficaste lá, longe de mim? Por que vieste aqui e me falaste isso? Como consegues ser mais estúpida do que o quanto eu já sabia?

Claro que estou surpreso!

Jason Lima
Enviado por Jason Lima em 24/10/2008
Código do texto: T1246671
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