De Brevitalis Vitae (Sobre a Brevidade da Vida)
De Brevitalis Vitae (Sobre a Brevidade da Vida)
In Memória Frei Jerônimo Campioni, OFM Conv.
Ramires Karamázov
Tempo todos têm o que difere são as prioridades. Quem em determinado momento da vida nunca pensou sobre a morte. Caso você, reverendíssimo leitor, nunca se imaginou aconselho-te a pensar e deixar-se levar pelo sabor da imaginação e perceber qual a forma que queira morrer. É uma idéia que muitos não estão habituados, talvez, porque ela repousa no palácio chamado saudades. Por isso, saudade significa tornar presente o que está ausente, podendo ser chamada de “memorial”. O nosso propósito não é discorrer sobre a morte numa perspectiva religiosa nem sobre a morte em si, embora possamos não sendo este o nosso propósito, e sim a relação do ser humano com o tempo.
A grande parte dos homens lamenta a maldade da Natureza, porque já nascem com a perspectiva de uma curta existência e porque os anos que lhes são dados transcorrem rápidos e velozmente. É com exceção de poucos, para os demais, em pleno esplendor da vida que justamente esta lhos abandona. Não há uma vida curta, mas desperdiço duma grande parte dela. A vida, se bem empregada, é suficientemente longa e foi dada a cada um com muita generosidade para realização de importantes tarefas. Quase todos os mortais imaginam que ela seja breve, mas ao contrário, são eles mesmo que a fazem ser assim. É verdade o que disse, como se fosse um oráculo, o maior dos poetas: “pequena é a parte da vida que vivemos” (Virgílio). Por isso, todo o restante não é vida, mas somente tempo ou existência.
Nenhum homem deixará que seus bens seja invadido por outro, mas deixam suas vidas de tal modo que eles próprios conduzem seus invasores a isso. Desenha-se no canto dos lábios um sorriso de frustração, quando não se encontra ninguém que queira dividir suas riquezas, mas a vida é distribuída entre muitos! Tais pessoas são econômicas na preservação de seu patrimônio, mas desperdiçam o tempo, a única coisa que justificaria sua avareza. Significativas são as palavras de Mário Quintana quando diz, “o tempo é um fio bastante frágil. Um fio fino que à toa escapa”.
Existir um longo tempo não significa viver muito, isso é verossímil, ao analisar todos os tempos tirados da existência, tais como: querelas conjugais, viagens e entre outros, e acrescente, ainda, as doenças causadas pelas próprias mãos e também todo o tempo desperdiçado, verás que essa pessoa tem menos anos do que conta. Infelizmente, a maioria dos seres humanos esbanja a vida sem que notasse o que estavam perdendo, e isso o levará a compreender que morre cedo. Vivem como se fosse viver para sempre, nunca ocorreu à idéia da própria fragilidade.
Porque os seres humanos ao completar o qüinquagésimo e sexagésimo anos deixam para tomar as sábias decisões e, a partir daí, onde poucos chegam, mostrar desejo de começar a viver? Não seria uma tolice?
O tempo nada mais é do que o presente, aliás, só existe “o presente do passado; o presente do presente e o presente do futuro” (Santo Agostinho), é por isso que todas as decisões importantes são tomadas no hoje da vida. Mas sempre haverá aqueles que lamentam a vida passada, reclama do presente e se desespera com o futuro. Ninguém valoriza o tempo, faz-se uso dele muito largamente como se fosse gratuito, pois, se é fácil administrar o que, embora pouco, é certo, deve-se conservar com muito cuidado o que não se pode saber quando acabará.
Portanto, ao meditar sobre a vida é necessário perscrutar sobre qual morte deseja ter no fim da vida, e a partir daí lançar-se para um objetivo da vida, já que “a morte é leve como uma pluma, e a responsabilidade por viver é pesado como uma montanha” (anônimo).
Dixit.