LAGOA ANDA, SABIA?

Toda criança quando perguntada sobre o que gostaria de ser quando crescer tem alguma resposta na ponta da língua. Eu, inicialmente, respondia que queria ser bailarina, depois quis ser contadora, depois advogada, posteriormente, professora de História e, por fim, virei professora de Português e Inglês.
 
O Balé passou longe demais de minha vida de menina pobre, a Contabilidade foi vetada pelo meu péssimo “miolo de camarão” para cálculos, o Direito foi recusado pelo preço do curso e pela ética (eu não saberia defender culpados e/ou condenar inocentes) e a História foi postergada pelo amor às Letras.
 
A alguém que julgue que eu tenha feito um péssimo negócio (e, provavelmente, estará pensando em termos financeiros), eu informo que mestres e doutores ganham muito mais do que muito profissional considerado “nobre”. Embora eu não seja doutora, há razões pelas quais eu não me arrependo de ter escolhido o magistério: o respeito, os amigos maravilhosos e as histórias formidáveis, que tenho colecionado ao longo de minha carreira.
 
Meu propósito hoje é relatar algumas peripécias de discentes, que me marcaram. Uma delas ocorreu numa escola pública, onde eu desempenhava a função de coordenadora de turno. Certa noite, uma professora que enrolava demais para ir para sala de aula, não tinha domínio das turmas e, aparentemente, não planejava suas aulas, exigiu que os alunos produzissem, em casa, um texto para apresentar-lhe, valendo dois pontos.
 
No dia seguinte, um danado de um aluno que não fizera a tarefa, entregou-lhe uma folha de caderno em que estava escrita uma receita de bolo d’água (sua mãe a anotara ali). E não é que a tonta da professora deu-lhe os pontos, evidenciando que, realmente, não lia os escritos produzidos pelos alunos?
 
Adivinha qual apelido ele ganhou de todos os professores e dos colegas? Isso mesmo! “Bolo d’água”!! Alguns anos depois, eu o encontrei como meu aluno no Ensino Superior e logo o adverti: “Agora a receita vai ter de vir escrita em Inglês, hem!”
 
Neste semestre, ensinando Produção Textual, dois alunos me marcaram: L.C.M. e R.S.J. Ambos eram extremamente carinhosos, a ponto de me beijarem o rosto (talvez como um pedido de desculpas) todas as vezes em que chegavam atrasados para minhas aulas. Aliás, a turma toda gostava de merendar uns 10 minutos a mais.
 
Dentre os meus objetivos com sua turma estava o deles serem capazes de escrever argumentativamente. Assim, em um exercício de revisão, pedi-lhes que, em dupla, dissertassem a partir da seguinte pergunta: QUAL A IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA A SUA FORMAÇÃO? 
 
 
E agora eu lhes transcrevo o texto produzido pelos dois:
 
“Linhares tem lagoas para todos os gostos, agitadas, desertas e sofisticadas. È um patrimônio da cultura brasileira. Na verdade poucas pessoas possuem isso.
 
Durante o período de férias, a lagoa mais visitada é a Nova. As pessoas praticam várias táticas de sobrevivência nas crianças e é adquiridos por elas.
 
E a cada passo que a lagoa deu nesses anos todos, nunca faltaram banhistas que indicavam sua localização a outras pessoas. Muitos procuram a bela praia paradisíaca.”
 
Ao corrigir, eu não sabia se ria ou chorava! Ao detectar que eles haviam confundido o tema, tive vontade de “pular de cima de um pé de alface”. Quando li que “as pessoas praticam várias táticas de sobrevivência nas crianças”, eu endoidei!Praticam tática de sobrevivência? NAS crianças? Como será, meu Deus?Será que foi isso que o Alexandre Nardoni fez com a pequena Isabella?
 
Os “equívocos” de pontuação e concordância são “pintos” em face das “preciosidades” que iniciam o terceiro parágrafo: “E a cada passo que a lagoa deu nesses anos todos”. Gente, eu juro que eu não sabia que lagoa andava! Temos 69* delas! Olha o perigo! Já imaginou se todas resolverem se mudar para o perímetro urbano? E o pior é que eles disseram que elas podem ser agitadas, desertas e sofisticadas! Então,... se as agitadas chegarem, podemos ter Tsunami? Será que as sofisticadas irão para o bairro Colina? E as desertas para onde irão?
 
Sabe o que eu fiz? Ri com eles, revisei o assunto e prometi-lhes uma crônica se conseguissem ser aprovados.  Eles fizeram a parte deles, então estou fazendo a minha.
 
 
 
* Wikipedia