PROPRIEDADE PARTICULAR

Meu fiel leitor deve achar que eu tenho algum problema na cabeça, de tanto que eu falo em mar. Já até contei que na primeira vez em que nele me banhei, “tomei” logo um “caldão” por obra de Nedson, meu irmão. Deve ter sido isso! Tico e Teco, meus dois neurônios, se apaixonaram por aquela água salgada, pelo ir e vir das ondas, e me fazem, até hoje, ficar embevecida com suas cores e, sobretudo, com seus frutos.
 
Você há de convir que Tico e Teco não têm nada de besta, né? Ou você não gostaria de morar de frente para o mar? Não? Bem... há gosto para tudo!
 
É claro que eu penso primeiro numa cobertura, depois me conformo com um três quartos, depois com uma kitchenet, mas o que eu gostaria mesmo era de uma casa, onde eu pudesse reunir meus amigos e familiares para uma peixada, caraguejada, siriada, ostrada, sururada, lulada, polvada... qualquer “-ada” que viesse dele. Então, acho que vizinhos de apartamentos não iriam gostar do pagodão não!
 
È claro que o mar é público, que as águas e adjacências são da marinha brasileira, que as taxas cobradas por esta são igualmente salgadas... e mais, que o preço de tais imóveis, por enquanto, não cabem em nenhum de meus bolsos.
 
Como não nasci em berço de ouro, não me casei com nenhum Onassis, não tenho herança a receber e não trabalho em nenhum dos três poderes, devo parar de sonhar ou buscar alternativas.
 
Parar de sonhar não é possível, porque Tico e Teco me perturbam todo dia há 42 anos. Matá-los não é possível, porque senão eu morro também. Poupar não é bem o meu esporte favorito, até porque eu odeio me contrariar quando eu quero uma coisa. Então, eu estou precisando de sorte para ganhar em alguma sena, mega, quina, lotomania... mas serve um padrinho ou madrinha também.
 
É claro que eu estou fazendo a minha parte. Como? Estou crendo, torcendo, fazendo empréstimo...( Pode deixar que eu não vou lhe pedir nenhum e se pedir... eu pago!).
 
Sabendo de minha doidice, Deus me arrumou uma casa para eu comprar em Conceição da Barra. Eu sei que o mar de lá é muito guloso, que já comeu um pedaço do muro do Hotel Barramar, já devorou um pedação da Bugia, está engolindo o centro da cidade... mas vai ser por lá que vai dar para eu comprar.
 
Junto com a casa eu vou comprar uns coletes, um bote, uma corda, uma pedrona, uma bóia, um cartaz de plástico resistente e vou contratar um vigia. O moço terá de vigiar o gulosão à noite. Se ele vier, o vigia tem que acionar o alarme para que eu e os meus, já vestidos com os coletes, possamos pular no bote.
 
Para que servirá a corda? Para eu amarrar uma de suas extremidades na bóia e a outra na pedra, que funcionará como âncora. Onde tiver sido a minha casa, haverá um cartaz em que se lerá: PROPRIEDADE PARTICULAR DE NORMA ASTRÉA.
 
Ai de quem quiser pescar no meu “terreno” sem minha autorização!
NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 24/10/2008
Reeditado em 24/09/2014
Código do texto: T1246102
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