A casa do bruxo
Existe em Bolligen, uma espécie de distrito de Saint Gall, Suíça, uma construção em pedra, em forma de círculo com uma torre no meio.
A respeito dela, contam-se muitas histórias. Umas baseadas na fantasia de todos nós, outras em fatos concretos.
Começou a ser construída em 1923, e lentamente foi ganhando forma. Um só homem a desenhou, e fez quase todo o trabalho da construção.
Estranha idéia! Mas o autor desta incrível proeza era um bruxo, um bruxo sábio, um bruxo erudito. Escreveu que “minha vida foi singularmente pobre em acontecimentos exteriores. Sobre estes não posso dizer muito, pois se me afiguram ocos e desprovidos de consistência. Eu só posso me compreender a luz dos acontecimentos internos. São estes que motivam a fecundidade da minha vida e é dela que trata minha autobiografia.”... Memórias, C. G. Jung
Após exaustivo trabalho, ficou pronta em 1955.
Não tem água encanada. Desconhece a eletricidade. A água vem dum poço, com bomba manual que o bruxo bombeava, como cortava lenha para a lareira, calefação e forno da cozinha, onde ele mesmo preparava suas refeições.
Na torre, o escritório indevassável. Ninguém penetrava sem a sua expressa autorização.
Qual o homem de hoje que no seu retiro – e lugar de profundo trabalho – toma conta da água, do fogo, da refeição, do trabalho e do lazer?
É preciso grande desenvolvimento espiritual para concatenar estas tarefas.
Mas o bruxo de Bollingen não só possuía estas qualidades, como era capaz de desenvolver idéias que se transformaram em livros.
Carl Gustav Jung nunca foi um simples mortal. Muitos o dizem analista. Poucos sabem que, antes de tudo, foi um homem completo, capaz de entender a si mesmo e aos seus semelhantes. Todos falam do seu conhecimento, da sua erudição, mas poucos tiveram o prazer de ir até o fim do seu livro “O homem à procura de sua alma.” Um filósofo, um erudito, um bruxo de magias certas, beirando às equações matemáticas, talvez o seu único pecado, pois afirmava detestar e não compreender a Matemática, a única ciência que abre as portas ao conhecimento exato. No entanto, como a Vida não é exata, esta falta de conhecimento não lhe fez falta.
Segundo tudo indica, a psique humana e o homem em si mesmo nunca foram tão bem observados. O velho bruxo, um dos aspectos da mão Divina, não deixou muitas lacunas.
É fato conhecido por todos os seus chegados, parentes e alunos, que quando morreu um raio cortou na mesma hora uma grande árvore da sua casa, em Zurique.
Na casa de pedra, em Bolligen, tem a inscrição na pedra, por ele mesmo entalhada, “Invocado ou não invocado, Deus está sempre presente.” Esta afirmação não é dele. Igualmente, encontra-se esculpida no Oráculo de Delfos, da antiga Grécia.
Os mistérios, nem sempre, são inatingíveis ao ser humano.