MONNERAT

MONNERAT

Nunca pensei querido em bater um papo com você nestes termos. Hoje o que me salvou foi o dia cheio de sol e pessoas. Mas eu queria mesmo era ficar na cama, virar o rosto pra parede, fechar os olhos e nada pensar, estava tão cansada... Mas a Dona Sebastiana, a proprietária do meu apartamento avisou que viria aqui, e já foi anunciando que viria às duas da tarde, ai Deus, ela é tão gracinha, difícil recusar qualquer coisa a ela. Monnerat ela tem mais de noventa anos, magrinha, caprichosa, chapeuzinho de crochê nos cabelos brancos, uma coisinha pequena e leve, e delicada também, sempre sorridente, anda ligeira e sorrindo. Aí tive que me esforçar e ir à feira das quintas feiras, bem aqui na minha rua, comprar umas coisinhas como biscoitinhos salgados e outros doces, variados, bem como três tipos de queijo para um lanchinho com ela. Ela vem sempre na quinta-feira, então concluí que ela gosta de matar saudade do imóvel que é dela, da rua que era dela e...

E ela veio toda sorridente trazendo um cadeado novo da porta da varanda. E pra lá a levei e botei-a na rede, coisa que ela não esperava e a tratei com mimos apressados, pois era uma alegria vê-la, mas hoje não era um bom dia; dei-lhe um suco de laranja e busquei os biscoitinhos. Ela “não, não, não precisa...” uma manha sabe, e eu já entrei na dela e faço assim “se a senhora está com pressa então vou arrumar numa sacola e a senhora faz um lanche em casa com sua irmã”, e foi falar e fazer e, rapidamente, arrumei uma sacola e ajudei-a sair da rede e despedir-me na porta.

Mal me atirei na cama chega o casal da faxina, um casalzinho novo do Ceará, Augusto e Marcinha, uma menina linda e inteligente, falei logo “gente eu quero este chão branquinho e vou deitar que não estou muito bem, vocês esqueçam que estou aqui”. E assim rolou o dia e acordei com o piso bem branquinho mesmo, tudo em ordem. Gente boa.

Nesta noite que passou, eu só pensava em você, custei a dormir. Ouvi ruídos na casa e conversava com você “Monnerat se você quiser pegar na minha mão eu não me importo, viu? Pode ficar à vontade se aqui lhe apetecer...” Você agora sabe mistérios que nós outros não sabemos. Sabe meu amigo aquele seu riso tão bom animando nosso almoço e aquele eterno copo na mão...

Telefonei pra sua mulher oferecendo qualquer forma de auxílio que ela e as crianças precisem, podem contar comigo e com toda nossa turma de colegas, você sabe que é querido de todos... Ai Monnerat, e nossos almoços mensais, querido, e agora?

Sabe? Lembrar sua risada boa, seu eterno bom humor, sabe que fico pensando que você, quando menino, você foi um menino louro e lindíssimo... Acertei? Lindo!

Sabe querido, que entrei pro Recanto das Letras e estou escrevendo crônicas lá, quase que diariamente. Menino está sendo lindo, estou adorando, acho que encontrei um lugar parecido comigo. E estou aprendendo tanto lá... Ainda não deu para fazer o site, mas tudo lá é aprendizagem e leio os textos dos outros também. Bom demais. Não te falei que estava com vontade de escrever um livro? Pois é, meus filhos estão gostando também.

Você acha que esse nosso papo poderia ser uma crônica? Nossos colegas estão num silêncio só. Tadinhos. Entendo. Claro.

Ontem escrevi uma crônica de título “O JORNALEIRO”, cara, teve 55 leituras, to boba.

Hoje a minha crônica teria outro título:

“A MORTE É DEFINITIVA”.