UM COLÓQUIO FAMILIAR

Se eu quisesse falar com uma alma, que acredito piamente está no céu, qual a língua que eu teria que me expressar e a quem solicitaria tal fala? A língua seria a celestial? Acho que nesta aí, não saberia nem dizer olá. Desconheço a hierarquia lá do céu, contudo, sei que Deus é o Senhor de lá e de cá, para quem me volto e peço vênia, O saúdo com um AVE DEUS! Que a Vossa paz esteja com o Cláudio e me permita ter com ele, numa linguagem coloquial, uma conversa familiar.

Se Deus permanece calado é por que consente. Conversarei pois: olá Cláudio, minha querida alma, como vai você? Tudo azul aí no céu? Pouco mudou aqui na terra depois que você subiu para o andar de cima. E lá se vão alguns anos... Mas me diga uma coisa, o que você tem feito? Não tenho noção nenhuma de como é o céu, por isso acho difícil imaginar o que você faz para passar o tempo. Só espero que não seja sentado numa nuvem, com a mão no queixo, olhando aqui pra baixo; inquieto do jeito que você era, a esta altura já estaria batendo o pé com a cara pra lá de amarrada. Já deu pra conhecer os seus pais? E os meus já os visitou? Por acaso já viu ai pelas nuvens algumas das pessoas que você admirava? Sena, Nogart, John Wayne, Greta Gargo, Lous Armstrong, Billie Holiday, Ella, Glenn Miller?

De mim, nossos filhos, genros e netos, o que tenho pra dizer, é que a saudade é grande e a sua falta muito mais. O nosso filho Marcelo, depois que terminou a Faculdade de Turismo, mandei para uma Universidade na cidade de Dallas- USA e quando terminou pediu cidadania americana, foi concedida e hoje vive na cidade de Phoenix, Arizona, feliz todo, falo com ele todos os sábados; Zelinha, àquela mesma doçura, Nelson montou uma nova clínica, João Vinicius vai bem e Claudinho, que você deixou com dois meses, já é quase um rapazinho. Sim, tem a Maria Clara, que nasceu quando você não mais estava por aqui, é a cara da Zelinha, acho que você iria “caducar” muito com ela, linda e carinhosa; Cláudia sempre responsável, continua levando a sério a sua profissão, Thales, hoje advogado, trabalhando muito. Tamy ainda não consegue falar sobre você, mas lhe faz bilhetes dizendo que o ama e que sente saudades. Daniel uma vez pediu umas asas pra voar; queria ir no céu lhe buscar, disse que papai do céu estava demorando muito para mandar você de volta. Otto e Marlúcia continuam levando a vida de sempre, viajando mundo afora e quando aqui estão ficam entre a casa da cidade e a da praia. Bruno já está um rapaz, meses atrás conheceu os Estados Unidos; Mônica também está uma mocinha. Sim, quem sempre me telefona é a Veroca, como todos nós, não consegue esquecê-lo.

Pois é, minha querida alma, estas são as minhas noticias... Estou aqui me lembrando que outro Natal se aproxima e essa data tornou-se complicada para mim. Parece que estou vendo você às voltas com a árvore de Natal ou chegando em casa morto de cansado de tanto andar à procura de presentes para a família toda; ou então, todo atarefado, pondo a mesa para a ceia e as formigas tirando você do sério e você colocando algodão embebido no vinagre nos pés da mesa. Você era todo alegria nessa data e eu pegando no seu pé: não beba, não fume, não coma isso nem aquilo, olhe o que o médico recomendou. Embora contrariado você cumpria as prescrições médicas.

É isso ai, minha querida alma... Ah, só mais uma coisa: acho que você ainda está lembrado do meu ceticismo com relação o após morte, contudo, depois que você partiu, estou tentando mudar de idéia, preciso acreditar que a “indesejada” não é uma perda definitiva e que num dia qualquer a gente se encontra. Ainda te amo.

No dia de Natal levarei flores pra você, já que não posso presenteá-lo com camisa, cuecas, meias, se houver Natal por ai dê seu jeito, festeje ...

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 23/10/2008
Reeditado em 23/10/2008
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