Tem gente!

Corro o risco de ser taxada de polêmica e insensível, eu sei, mas a exploração do caso de Santo André já extrapolou todos os limites aceitáveis. E está dando nos nervos.

Tem de tudo neste mundo: gente que se alia a namorado para dar cabo dos pais, gente que joga a filha pela janela, gente que promove sessão particular de extermínio na sala de cinema, gente que mata o objeto de sua paixão insana...

A questão é que tem muita gente no mundo. Gente fazendo de tudo, bem embaixo dos nossos narizes. Tem gente que sofre e gente que comercializa tragédias. Gente crédula e gente que abusa da confiança. Gente que faz e gente que senta em cima do próprio rabo para criticar. Gente que cai feio e gente que ri de videocassetada. Gente que batalha pelo pão de cada dia e gente que incita a fofoca, se alimentando da batalha alheia. Gente que bateia e gente que tampa o sol com a peneira.

Não foi noticiado, mas tem gente solitária que dá boa noite ao William Bonner por não ter com quem conversar. Gente se pintando de verde para ganhar a proteção dos ecologistas. Gente que come o pão que o diabo amassou. Gente, igual a você e a mim, que vive onde Judas perdeu as botas e, literalmente, morre de fome. Aos milhares. Todos os dias.

Tem gente matando um leão por dia - a beliscão. Tem gente, em tempo de vaca magra, que se vira para a esquálida não ir pro brejo. Tem gente fazendo das tripas coração bem ao lado da gente.

Tem gente mais folgada que colarinho de palhaço e gente apertada como sardinha em lata. Tem gente mais perdida que freira em zona e gente louca para se perder. Tem gente que acha que campanha política tem que ser suja como pau de galinheiro. Tem gente que aceita que candidato sujo cante de galo.Tem gente que dá azar e gente que despreza a sorte que tem. Gente se fingindo de rico e gente se passando por pobrezinho. Gente que se doa ao bem e gente que vende a alma ao diabo.

A coisa anda mais feia do que rascunho do mapa do inferno - de cabeça para baixo. Minha avó dizia que, se o mundo fosse bom de verdade, o Dono morava nele. Mas gente que pensa escolhe o tipo de gente que quer ser. E o tipo de informação que quer ler, ouvir e comentar.

E não venham bater à minha porta contando as agressões que Liso sofreu ao ser preso, o passado do pai de Eloá, o que Nayara vestia ao sair do hospital. Tampouco quero saber da herança de Suzanne ou como Mateus e Alexandre passam os dias na cadeia. O recinto está ocupado. Aqui dentro tem gente. Gente que tem mais o que fazer.

Maria Paula Alvim
Enviado por Maria Paula Alvim em 23/10/2008
Reeditado em 23/10/2008
Código do texto: T1244190
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