Incompetente Graças a Deus

Não gosto do adjetivo competente. De alguns meses para cá, na verdade, mais de ano, passei a evitar tal palavra, bem como suas derivadas, preferindo qualificado, capacitado, preparado, apto, experiente, conhecedor... “Ora, não é a mesma coisa”, dirão alguns puristas, que só entendem a palavra no seu sentido individual, de dicionário. Amigos, o sentido da palavra quem dá é o contexto, senhor de tudo.

Para evitar uma palavra odiosa, mudo até mesmo toda a frase ou parágrafo. No computador, é moleza. Nos anos dourados da Olivetti era difícil. Certa feita, foca de redação, levei uma bronca do editor que me ameaçou: “Vou descontar do seu parco salário as laudas jogadas no lixo”. Comecei a guardar laudas amassadas no bolso. Meu Deus! Quanta coisa idiota a gente faz nessa vida. Mas voltemos ao adjetivo em questão, que na minha insignificante opinião é execrável.

É meio difícil explicar minha ojeriza. Vou tentar, entretanto. Competente me soa um adjetivo modista, esnobe, afetado, metido a besta, politicamente correto, preconceituoso, elitista, propagandístico, marqueteiro, pedante e, ufa, mais malhado que cédula de um real. Quando ouço tal palavra, me parece que a pessoa que a profere faz discurso, tenta ser educada ou formal. Ou seja. Soa como algo volúvel, dissimulado.

Na boca dos marqueteiros e liberais de carteirinha, então, competente é aquele que deu certo, que se deu bem, ficou rico, famoso. Às vezes, sem importar os meios. Enfim, é o winner. O incompetente é o perdedor. É a qualificação que políticos, empresários e jornalistas mais utilizam quando querem falar de alguém considerado talhado para determinada atividade. Alguns mais exaltados chegam mesmo a comentar: “Não presta, mas é competente no que faz”.

Certa feita um chefe, que não era o mesmo da lauda, disse-me que eu era incompetente para certa função. Não consegui dormir direito por semanas. Senti-me aniquilado como a pulga entre as unhas. Hoje, acredito, teria um sono profundo, sem culpa, sem pulga e sem lauda.