Um Mergulho no Rio Pinheiros

O trem sai da estação Rebouças rumo a Santo Amaro. A viagem é confortável, a música clássica acalma o viajante estressado com o mundo lá fora; os vagões são limpos, ar condicionado, poltrona acolchoada, ausência de ambulantes, pastores protestantes e outros dantes, tão comuns em outras linhas. Abro o livro, tento ler entre as estações, o trem para, a porta se abre: Estação Berrini! O mau cheiro me interrompe. Fecho o livro e olho pela janela, o cheiro de esgoto lembra que á minha direita jaz um rio que já transportou vida. Olho novamente e meus olhos recriam as margens do rio com Pinheiros gigantes...

Vejo centenas de pássaros, aves de todos os tipos, batendo asas pelos ares, dando vôos rasantes na água, onde botos rosas nadam e capivaras se espreguiçam; vejo barcos cheios de turistas, que tiram fotos das belas pontes ornamentadas com estátuas de nossos grandes escritores e poetas. Vejo alguns pescadores, fazendo coisa proibida: não é possível pescar no rio. O rio tem cheiro de rio e o passeio em suas curvas, inspira atletas a correr por suas marginais, atrai estrangeiros assombrados com a recuperação do leito e fascina as crianças que matam aulas para aprender ao ar livre o que não está escrito nos livros.

São Paulo nunca esteve tão bonita e tão cheia de vida.

“ Estação Santo Amaro!” - Diz a voz gravada, as portas se abrem, meus olhos de poeta se fecham e o mau cheiro revela que nunca terei em vida, a chance de ver minha visão imaginada, se tornar visão vivida.