A Flor Roxa
A Flor Roxa
Ana Esther
O casal rico, a casa grande (bela mansão), o carro superluxo. Tudo ali cheirava a dinheiro sem fim. Uma maravilha, só não fosse pelo drama da esposa que, por mais riqueza que acumulasse em forma de jóias raras, não conseguia suportar o marido. O pobre não desconfiava deste segredo da mulher –era um milionário totalmente apaixonado.
O asco da esposa aumentou tanto que para dar vazão sem ser percebido ela virou sua atenção para o terreno baldio ao lado. Lá havia grama selvagem, livre, onde desabrochava uma flor roxa delicada, porém tão selvagem e livre quanto a grama que a acolhia.
- Onofre, vem aqui e olha por sobre o muro o terreno horroroso que nos cerca!
- Oh, Docinho, é um belo pedaço de terra! Que graciosas aquelas flores roxas, não achas?
- Cruzes, só tu mesmo para não perceberes o ridículo de termos nossa casa cercada por essa coisa roxa horripilante.
- Docinho, eu gostava tanto da florzinha roxa...
- Pois eu a detesto, Onofre.
A conversa não parou por ali. A esposa passou a reclamar da flor roxa diariamente. Só parou quando o marido partiu numa viagem de negócios. Foi então que ela pensou, pensou, pensou. Resolveu esperar Onofre com uma surpresa daquelas.
- Onofre! – Disse a esposa ao recepcionar o marido na volta. – Vem olhar o que eu comprei especialmente para ti.
- Docinho... um presente para mim! Mas que homem feliz eu sou... casado com esse Docinho de coco!
A alegria de Onofre teve morte súbita. Boquiaberto, ele admirou seu presente: o terreno onde outrora havia grama selvagem e a bela flor roxa. Seu Docinho de coco mandara ladrilhar tudo com pedrinhas, com pedrinhas...
*Esta minha crônica foi publicada no jornal literário Letras Santiaguenses Ano XI, Número 77, Setembro/Outubro 2008, pág. 03.