The dream is over
Quando Paul (ou foi o John ?) disse a famosa frase, eu era uma menina. Mas conseguia sentir que algo importante estava ocorrendo no mundo. O final dos Beatles. As músicas eu já ouvia no rádio de pilha (moda na época) cor-de-rosa, era 1970.
O mundo dançava em cores. Em sons. Tons. Tudo exótico, estrobofóbico. As idéias nas cabeças, as câmeras nas mãos. Aconteciam coisas importantes. Os moços tinham planos, ideais. Lutava-se então. Dava-se a vida por crenças políticas.
Eu ia crescendo, tornava-me uma adolescente. As microssaias, saias-short, pantalonas e plataformas. Muitas e muitas cores. Fortes. Aí vieram os xadrezes. Cabelões. Puxa, eu era tão bonita e tão sonhadora!
Sobrou tão pouco da menina de 1970, que aos doze anos tinha professores como ídolos. Afinal, no colégio descobri as idéias. Em casa era tudo parco e simples. Cheguei aos escritores lá na biblioteca da escola.
Tanta memória para desenterrar.
_ É isso aí, bicho.
_ Tô na fossa.
_ Ele é um pão.
Saudade dói de matar, aqui. A Carolina na janela, o Vandré sumido. E eu aqui fechada. Só.
Tentei segurar meu pensamento. E foram anos assim. Discutindo sobre tudo. A abertura veio. Contradições. Fiquei adulta. Tive filhos. Mudei.
Só apareci hoje, pra não dizer que não falei das flores.